Gálatas - O Perigo do Legalismo no Cristianismo - Bruce Anstey
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terça-feira, 24 de março de 2020
Desejos Finais do Apóstolo
V. 17 – O grande desejo e
oração de Paulo eram que “ninguém” o
“inquietasse” fazendo a obra do
inimigo colocando os santos sob a servidão da lei. Ele tinha pago um preço para
os santos obterem a verdade e não queria que eles a perdessem. Ele disse: “porque trago no meu corpo as marcas do
Senhor Jesus”. Isso é uma referência aos açoitamentos, apedrejamentos,
etc., que ele havia sofrido por conta do evangelho. Se alguém ousasse
questionar a legitimidade de seu amor e cuidado pelos santos, tudo o que eles
tinham de fazer era olhar para essas marcas – elas eram provas de seu sincero
amor por eles. Isso era algo que os judaizantes não podiam mostrar, porque eles
não haviam sofrido nada.
V. 18 – Conhecendo a
tendência do coração humano, Paulo percebeu que havia uma grande chance de que
os gálatas pudessem se sentir ofendidos ao falar com eles tão severamente –
então ele lhes dá uma palavra final de advertência – “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito”. Paulo
desejou que eles não se sentissem ofendidos com o que ele disse, mas que
aceitassem a correção com um espírito correto. É tão fácil para nosso espírito
ficar irritado quando alguém nos corrige, porém se reagirmos de tal modo, não
iremos obter o benefício da correção.
Outra característica dessa epístola – que a torna diferente das outras
epístolas de Paulo – é que ele não saúda ninguém ao terminá-la. Ao fazer isso,
estava mostrando a eles que ele não podia ter comunhão, enquanto eles
retivessem esse sério erro doutrinal.
Os Motivos do Apóstolo Paulo em Contraste com os dos Judaizantes - Cap. 6:11-16
Nas observações finais de Paulo o vemos descobrindo seu coração diante
dos gálatas, esperando que eles enxergassem que seus motivos eram puros. Ele
não queria nada além daquilo que era para a glória de Deus e para bênção dos
gálatas. Ao mesmo tempo, ele expôs os motivos encobertos dos judaizantes que
desviaram os gálatas do caminho.
V. 11 – Paulo escreveu com
suas próprias mãos apenas duas de suas epístolas inspiradas– Gálatas e Filemon
(Gl 6:11; Fm 19). As outras foram ditadas para alguém que as escreveu, e então
ele colocou suas saudações finais aos endereçados, de seu próprio punho, desta
forma autenticando-as. (2 Ts 3:17).
Ele aponta para o fato de que ele havia escrito esta epístola com “grandes letras”. Isso até pode ter sido porque ele tinha uma visão deficiente e não
podia enxergar bem (Gl 4:15), mas muito provavelmente ele tenha escrito assim
para enfatizar a importância de sua mensagem. A gravidade do erro no qual os
gálatas haviam caído requeria que ele pessoalmente escrevesse a eles, e isso
com ênfase – portanto, o uso de grandes letras. Seu sério e sincero desejo para
com os gálatas era de que eles fossem libertados dos ensinamentos dos mestres
judaizantes. Ele não tinha nenhum motivo encoberto ao insistir com eles a
respeito da liberdade Cristã. Isso deve ter mostrado a eles que ele não tinha
nada além do bem deles diante de si; seus motivos eram puros.
Vs. 12-13 – Por outro lado os
falsos motivos dos judaizantes eram totalmente egoístas e interesseiros. Paulo,
portanto, passa a falar destes charlatões que haviam enganado os gálatas,
dizendo: “Todos os que querem mostrar
boa aparência na carne...” Isso é tudo que os esforços dos judaizantes
buscavam – dar à carne algo em que se gloriar.
Paulo indica que havia talvez duas
razões para as atividades judaístas deles. Em primeiro lugar, eles estavam
procurando um caminho mais fácil do que aquele que é normal ao Cristianismo. Ao
adotar a lei (isso é, sendo circuncidados), os judeus incrédulos seriam muito
mais tolerantes à mensagem Cristã. Aqueles que acatavam o judaísmo queriam
evitar sofrer “perseguição por causa da
cruz de Cristo” (v. 12). Isso foi oferecido aos gálatas como sendo algo
positivo. Já que nenhum Cristão deseja sofrer dessa forma, não foi difícil
fazer os gálatas aceitarem o legalismo por essa razão.
Em segundo lugar, os judaizantes estavam buscando seguidores, e estavam
usando a lei para conseguirem isso. Paulo diz: “Esses querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne”.
Possuir seguidores ministrava ao orgulho religioso dos judaizantes, mas isso
também era um meio de obter uma vida mais confortável (2 Co 2:17 – ARA – “mercadejando [negociando com – JND] a
Palavra de Deus”). Este falso motivo está operando hoje. Aqueles que são
governados pelo legalismo frequentemente são marcados por reunir seguidores
após si. Pode não parecer ser assim, mas dado suficiente tempo, isso se tornará
evidente. E eles irão invariavelmente fazer uso de princípios e práticas
legalistas para trazerem as pessoas sob seu controle. Eles até podem crer que
estão genuinamente ajudando as pessoas, mas na verdade trata-se da carne
operando nas coisas de Deus. Esta não é a maneira de Deus de santidade e
consagração.
V. 14 – Em contraste com as
tentativas carnais dos judaizantes, Paulo diz: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor
Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”.
Eles se gloriavam na carne; Paulo se gloriava na cruz que colocou um fim à
carne. Ele não tinha desejo algum pelo favor do mundo que havia crucificado o
Senhor Jesus. Novamente, isso mostra o caráter legítimo de Paulo.
V. 15 – Em contraste com
as tratativas judaístas desses falsos obreiros, Paulo fala da verdadeira
posição Cristã. Como um resultado da morte e ressurreição de Cristo e da
descida do Espírito Santo, Cristãos estão agora numa nova posição diante de
Deus “em Cristo Jesus”. Como parte
da raça da “nova criação”, “nem a circuncisão é coisa alguma, nem a
incircuncisão” (v. 15 – JND).
V. 16 – Paulo desejou que
houvesse “paz” sobre todos Cristãos
que andavam segundo a “regra” da
nova criação. Essa nova regra é a lei de Cristo mencionada no versículo 2. Para
aqueles que querem andar segundo regras e regulamentos, esta é a regra para
eles; esta é a única regra que Cristãos devem seguir. Paulo fala de duas
companhias de crentes:
- “eles” – crentes de entre a incircuncisão (gentios) que
estão agora na Igreja.
- “o Israel de Deus” – crentes de entre a circuncisão (judeus) que estão agora na Igreja. Eles são um “resto [remanescente – ARA] de acordo com a eleição da graça” entre a nação de Israel que possui fé (Rm 11:5).
Ele também desejou que misericórdia fosse mostrada ao “Israel de Deus”. O ímpeto de suas
observações na epístola foi repreender Cristãos por tomarem para si a lei de
Moisés, e ele sabia que seria especialmente difícil para aqueles que cresceram
no judaísmo, abrir mão do velho sistema legal. Portanto, ele desejou que os
santos nas assembleias da Galácia mostrassem a eles misericórdia e paciência
nesta questão.
Sumário das Exortações Práticas nos Capítulos 5-6
1)
“Permaneçamos firmes” na liberdade em que a verdade colocou todo
Cristão (Gl 5:1-15), porque adotar a lei:
- Nulifica a obra expiatória de Cristo – v. 2.
- Coloca a pessoa debaixo da maldição da lei – v. 3.
- Priva a pessoa do benefício assegurado pela graça –
vs. 4-6.
- Traz o juízo governamental de Deus – vs. 7-10.
- Remove o escândalo da cruz, o qual é normal ao
Cristianismo – vs. 11-12.
- Abre a porta para a manifestação da carne na vida do crente – vs. 13-15.
2) “Andemos em Espírito” e
assim não cumpriremos as concupiscências da carne (Gl 5:16-26).
3) “Restauremos” aqueles
tomados em alguma falta (Gl 6:1).
4) “Levemos” os fardos uns
dos outros (Gl 6:2).
5) “Provemos” nossas
próprias obras fazendo-as no temor de Deus (Gl 6:4-5).
6) “Comuniquemos” em
coisas materiais àqueles que ensinam a verdade, porque há grande recompensa em
fazê-lo (Gl 6:6-9).
7)
“Façamos o bem” a todos (Gl 6:10).
7) Façamos o Bem a Todos - Cap. 6:10
A última exortação de Paulo é: “façamos
o bem a todos”. “Todos” é uma
palavra bem ampla, alcançando mesmo aqueles que estão fora da comunidade
Cristã. Isso mostra claramente que devemos ter um interesse no bem-estar dos
outros; é a disposição normal do coração que é “confirmado com graça” (Hb 13:9 – ARA). Tal graça para com os
perdidos pode ser o meio pelo qual se abra uma porta para alcançá-los com o
evangelho. John Wesley adequadamente disse: “Faça todo o bem que puder, de
todas as formas que puder, a todos quantos puder, enquanto puder”.
Legalismo, por outro lado, tende a produzir uma disposição interna que
olha somente para si mesmo e para seus próprios interesses. Alguns estão tão
presos com o legalismo que nem mesmo pensariam em orar por aqueles que estão
fora da assembleia – muito menos em ajudá-los. A mente legalista que não está
estabelecida em verdadeira liberdade Cristã não será rica em boas obras para
com os outros.
Paulo acrescenta que a graça Cristã e as boas obras devem ser “principalmente aos da família da fé” (v.10
– ARA). Isso mostra que nossa primeira responsabilidade é para com os nossos
irmãos, mas também não devemos nos esquecer daqueles fora da família da fé.
6) Comunicar com Aqueles que Ministram a Palavra - Cap. 6:6-9
Até então neste capítulo tivemos a graça para com o caído (v. 1), graça
para com um irmão sob fardos (v. 2), graça em relação ao nosso trabalho para o
Senhor (vs. 3-5), e agora vemos graça Cristã para com um irmão que está
engajado em ensinar a Palavra de Deus aos santos (vs. 6-9).
Paulo diz: “E o que é instruído [ensinado – TB] na palavra reparta [comunique
– JND] de todos os seus bens com aquele
que o instrui [ensina – TB]”. O ponto aqui é que aqueles que
recebem o benefício do ministério da Palavra por meio de um dos dons no corpo
de Cristo (a saber, um mestre) possuem a responsabilidade pessoal de “repartir [comunicar]” com ele as
coisas materiais. Essa é a maneira pela qual Deus suporta o ministério de Sua
Palavra entre Seu povo. Paulo não faz menção alguma de estabelecimento de um
sistema no qual o pregador possui uma folha de pagamento fixa – tal como é
praticado na maioria das denominações hoje. Comunicar na forma de que Paulo
fala aqui é puramente num nível pessoal,
porém tal comunicação também deveria ser feita num nível coletivo de igual forma. Filipenses 4:14-16 indica que assembleias
deveriam estar exercitadas quanto a ministrar financeiramente àqueles que
ensinam e pregam a Palavra.
Nos versículos 7-8, Paulo introduz o princípio do governo de Deus para
encorajar os gálatas a comunicarem aos servos do Senhor. Ele mostra que nas
tratativas governamentais de Deus existe algo como semear e ceifar. Ele não tem
apenas juízos disciplinares para corrigir o Seu povo, mas tem também favores
governamentais (num sentido prático), se eles fazem o bem. Portanto, semear e
ceifar possuem resultados tanto positivos como negativos. Esses versículos são
normalmente tomados em um sentido negativo e usados como um aviso, mas o
contexto é de um sentido positivo do governo de Deus. Paulo está nos
encorajando a semear no Espírito, porque certamente iremos ceifar de uma forma
positiva. É verdade que se semearmos na carne iremos “ceifar a corrupção”, mas também é verdade que se semearmos no
Espírito iremos “ceifar a vida eterna”.
Desde que isso é assim, a conclusão de Paulo é: “não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos”.
Isso era uma exortação necessária aos gálatas porque a mente legalista, por não
entender a verdadeira liberdade Cristã, normalmente é mesquinha com posses
materiais.
Paulo tinha outra razão para trazer o assunto do governo de Deus. Os
oponentes da graça argumentavam que se a lei não tivesse parte na vida do
crente, não haveria restrições quanto a uma conduta pecaminosa. Uma pessoa
poderia crer no Senhor Jesus para salvação e então entregar-se à uma vida
pecaminosa e ainda assim ela seria aceita por Deus. Paulo mostra aqui que
embora o crente seja sempre aceito (Ef 1:6), ele não ganha nada em viver
pecando. Se um filho de Deus escolhe viver após a carne, existe algo como o
governo do Pai na vida de Seus filhos disciplinando aqueles que voluntariamente
pecam no caminho. Um crente não consegue seguir pecando em sua vida sem pagar
um preço de sofrimento sob as mãos do Pai. O medo de ficar sujeito a Seu juízo
governamental em nossa vida deveria ser uma forte motivação para julgarmos a
carne e andarmos no Espírito (1 Pe 1:16-17). Nosso problema é que semeamos na
carne e então oramos por uma má colheita! Todavia, nada passa despercebido aos
olhos de Deus; Ele toma a conta de tudo e trata conosco segundo Seu grande amor
e perfeita sabedoria. Um de nossos hinos corretamente diz: “Todos os Seus atos para conosco são puro
amor”.
Se temos semeado na carne não
devemos desistir em desespero e pensar que não há esperança em seguir adiante.
É importante perceber que embora haja o juízo
governamental em relação com os nossos feitos errados, há também o perdão governamental para com aqueles
que se arrependem e julgam a si mesmos (1 Jo 1:9; Tg 5:15).
Se Deus vê um espírito humilhado e contrito em nós, Ele pode tirar de
sobre nós (perdoar) o juízo disciplinar que havia colocado sobre nós. Todos
experimentamos Sua misericórdia de uma ou outra forma. O Sr. Grant disse: “Não
procede a ideia de que Deus não pode intervir e nos livrar daquilo que
necessariamente seria o fruto de tal semeadura, se tão somente houver
verdadeiro julgamento próprio quanto a tal mau proceder na alma; porque para um
Cristão a sega de tal semeadura tem por objetivo produzir julgamento próprio, e
se a julgamos antes, pode ser que não haja necessidade alguma de colhê-la”.
Portanto, se falharmos, julguemo-nos a nós mesmos de maneira que possamos ser
restaurados e experimentarmos Seu perdão governamental; pode ser que não nos
seja necessário ceifar aquilo que semeamos. Há misericórdia com o Senhor.
5) Provar sua Própria Obra Fazendo-a - Cap. 6:3-5
Outras tendências naqueles que vivem linhas de pensamentos legalistas
são o orgulho e o ciúme. A próxima exortação de Paulo trata disso. Ele diz: “Porque se alguém cuida ser alguma coisa,
não sendo nada, engana-se a si mesmo. Mas prove cada um a sua própria obra, e
terá glória só em si mesmo, e não noutro”. Quando estabelecemos regras para
nós mesmos, e as seguimos de alguma forma bem-sucedida, podemos nos tornar
orgulhosos disso. Podemos acreditar que estamos fazendo essas coisas para o
Senhor, porém se elas emanam da carne religiosa, há uma grande probabilidade de
que produzirão um espírito de ciúme e competitividade para com os outros.
O remédio de Paulo para isso é que “cada
um” deveria estar diante do Senhor quanto àquilo que Ele quer que seja
feito. Ele deveria “provar a sua própria
obra” fazendo-a no temor de Deus, sem olhar ao redor para aquilo que outros
estão fazendo. É algo formoso servir ao Senhor com humilde contentamento e
possuir um senso secreto de Sua aprovação no trabalho que é feito. A pessoa que
faz isso terá “glória só em si mesmo e
não noutro”. Isso é algo que uma pessoa legalista não tem, e uma das razões
é porque ela tenta regular a vida de outros de acordo com seus princípios. Ela imagina
que paz e aprovação vêm de outros seguirem suas ideias e isso a leva a
interferir na vida e serviço dos outros para o Senhor.
Paulo acrescenta: “Porque cada
qual levará a sua própria carga”. A palavra “carga” neste versículo no grego é diferente daquela usada no
versículo 2, embora ambas sejam traduzidas “carga”
na versão Almeida Revista e Corrigida. No versículo 2, a palavra refere-se a
fardos que podemos carregar pelos outros; aqui no versículo 6, refere-se ao
fardo que carregamos no cumprimento de nosso serviço para o Senhor. Existem
dificuldades e provações que são peculiares ao particular serviço que nos foi
dado a fazer que outros não podem carregar por nós. Se eles o fizessem,
estariam fazendo o nosso trabalho. Portanto, cada um de nós tem que carregar “sua própria carga”.
Em Números 4:19 há uma figura desses dois tipos distintos de fardos. “Aarão e seus filhos virão e a cada um
porão no seu ministério [serviço] e no seu cargo [fardo]”. Literalmente,
o “serviço” dos levitas se refere ao
seu trabalho quando o tabernáculo era erigido e o povo se chegava a Jeová com
seus sacrifícios; o “fardo” de cada
levita refere-se ao seu trabalho de transportar o tabernáculo em suas jornadas
para um novo lugar. Aarão é um tipo de Cristo aqui, que está presentemente
dispensando a cada crente um “serviço”
para ser feito para Ele e um “fardo”
para carregar para Ele. Ambos, o “serviço”
que temos para executar, assim como o “fardo”
conectado com a realização daquele serviço, são as coisas que nós mesmos temos
que carregar, e ninguém pode carregar esse fardo por nós – o Senhor nos dará
graça para isso (Tg 4:6). No entanto, é interessante notar que em relação ao
primeiro tipo de fardo, no versículo 2, os filhos de Israel deram aos levitas “carros” e assim os ajudaram a carregar
seus “fardos” (Nm 7:3-8), mas eles
não puderam ajudar os levitas em seu “serviço”
no tabernáculo, porque somente a eles era permitido manipular os vasos santos.
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