Vs. 19-21 – Seja a
permissividade imoral ou debates irados, o crente precisa entender que tudo
isso é proveniente de uma mesma fonte – a carne. Paulo, portanto, segue a falar
das “obras da carne”. Ele lista 16
coisas que emanam da carne.
- Males morais, que são voltados contra o próprio indivíduo –
o “eu” – “prostituição [fornicação], impureza, lascívia [licenciosidade]” (v. 19).
- Males espirituais, que são voltados contra Deus – “idolatria, feitiçarias [magias]” (v. 20a).
- Males sociais, que são voltados contra o homem – “inimizades [ódio], porfias [contendas], emulações [ciúmes], iras, pelejas [contenções], dissensões [disputas], heresias [escolas de opinião, ou partidos], invejas, homicídios, bebedices, glutonarias” (vs. 20b-21).
Paulo acrescenta: “e coisas
semelhantes a estas” indicando que esta não é, de forma alguma, uma lista
completa. Um crente pode falhar e a carne pode se manifestar em uma ou mais
destas coisas, porém elas não o caracterizam. Por outro lado aqueles que “praticam” estas coisas habitualmente não são filhos de Deus e “não herdarão o reino de Deus”.
Vs. 22-23 – Paulo passa a
falar sobre o “fruto do Espírito”.
Quando estamos andando no Espírito, estas maravilhosas características serão
vistas em nossa vida. Frequentemente as chamamos de “frutos” (plural) do
Espírito, mas elas são na verdade o “fruto”
(singular) em nove partes. Talvez não sejamos todos mestres e pregadores
dotados, mas todos podemos manifestar o fruto do Espírito. As nove coisas que
Paulo lista aqui, como descrevendo o caráter normal Cristão, são na realidade
características morais do próprio Cristo. Portanto, o crente que anda no
Espírito manifestará Cristo em sua vida.
- “amor, gozo, paz” são talvez voltadas para Deus (v. 22).
- “longanimidade, benignidade, bondade” são voltadas para o
homem – para com outros (v. 22).
- “fé [fidelidade], mansidão, temperança [controle próprio]” são voltadas para o próprio indivíduo (vs. 22-23).
Paulo acrescenta: “contra estas
coisas não há lei”. Isso não
significa que a lei é contrária a estas excelentes qualidades morais, mas
significa que não existe lei que pode produzir estas características próprias
de Cristo num crente; elas somente são produzidas pelo Espírito de Deus quando o
crente anda no Espírito.
A mudança óbvia de palavras, de “obras”
(ao descrever a carne) para “fruto”
(ao descrever o Espírito), tem a intenção de trazer o pensamento de que vontade
e energia humanas estão envolvidas com um e de que a energia passiva do
Espírito está envolvida com outro. Ao chamar aquelas coisas carnais de “obras” Paulo indica que a vontade do
homem é operante ao fazê-las, e de que o homem é, portanto, responsável por
elas. A carne tem as suas obras, porém ela não produz fruto algum para Deus. Ao
chamar aquelas coisas que são produzidas pelo Espírito de “fruto”, isso indica que aquelas qualidades excelentes de Cristo não
são um resultado de nosso esforço, mas o resultado do silencioso trabalho de
Deus no crente. Se ao Espírito é dado o Seu devido lugar na vida do crente, Seu
poder irá manter a carne sob controle e irá formar as belezas morais de Cristo
nele.
Vs. 24-25 – Em conclusão,
Paulo diz: “E os que são de Cristo
crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências”. Isso significa
que a posição que tomamos ao professarmos ser Cristãos envolve a aceitação do
juízo de Deus sobre a carne. Por fé vemos nossa carne julgada na cruz de
Cristo. Paulo então diz: “Se vivemos no
Espírito, andemos também no Espírito”. Nossa posição Cristã é “viver no Espírito”, e desde que isso é
assim, a prática normal no Cristianismo é “andar
no Espírito”. Portanto, para sermos consistentes com o estado Cristão
normal, devemos andar no Espírito, porque vivemos no Espírito. Em relação a
isso, F. B. Hole disse: “Um pássaro não pode ter a sua vida no ar e mesmo assim
ter todas suas atividades debaixo d’água. Um peixe não pode ter sua vida na
água e ainda assim ter suas atividades sobre a terra. E Cristãos não podem ter
sua vida no Espírito e suas atividades na carne”. Portanto, nosso andar deve certamente estar de acordo
com a nossa vida no Espírito.
O Sr. Darby escreveu uma nota de rodapé[1]
em sua tradução indicando o uso de duas palavras diferentes para “andar” nesta parte prática da
epístola. Em Gálatas 5:16 a palavra se refere a nossa conduta geral de vida,
enquanto que em Gálatas 5:18, 25, 6:16 se refere à regra característica de
nossa vida.
V. 26 – O comentário final
de Paulo, em relação ao andar no Espírito revela, o estado triste no qual os
gálatas haviam caído. A falsa busca por santidade por meio da lei tinha apenas
dado lugar a carne em seu meio. A vida nas assembleias da Galácia havia se
degenerado em competição carnal, cada um procurando superar o outro em
santidade, numa tentativa de atingir uma espiritualidade superior. Portanto, a
palavra cautelosa de Paulo é, “Não
sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos [provocando-nos – TB] uns aos
outros, invejando-nos uns aos outros” Aprendemos com isso que a carne irá
até mesmo se encurvar para usar as coisas de Deus para colocar-se acima dos
outros. Que isto seja um aviso para nós.
Paulo tocou em duas grandes coisas que resultam no crente que anda “no Espírito”:
- Temos vitória sobre
os desejos da carne (vs. 16-21).
- As características de Cristo são vistas em nós (vs. 22-23).
Estas são as duas coisas que os legalistas estavam tentando alcançar ao guardar
a lei, porém somente falharam.
[1] N. do
T: Nota de rodapé “h” da tradução de
J. N. Darby em Gl 5:25: “A expressão ‘pelo Espírito’ ocorre nos vs. 18 e 25;
mas no v. 16 ‘andar’ refere-se ao
modo geral de vida, como Rm 8.4, então deixei ‘em’. No vers. 18 e 25 ‘andar’
refere-se à regra ou linha seguida, como Gl 6:6; Rm 4,12; Fp 3.16 É
característico do andar, da condução e da vida, sendo o Espírito o instrumento
e o poder”.