Até então neste capítulo tivemos a graça para com o caído (v. 1), graça
para com um irmão sob fardos (v. 2), graça em relação ao nosso trabalho para o
Senhor (vs. 3-5), e agora vemos graça Cristã para com um irmão que está
engajado em ensinar a Palavra de Deus aos santos (vs. 6-9).
Paulo diz: “E o que é instruído [ensinado – TB] na palavra reparta [comunique
– JND] de todos os seus bens com aquele
que o instrui [ensina – TB]”. O ponto aqui é que aqueles que
recebem o benefício do ministério da Palavra por meio de um dos dons no corpo
de Cristo (a saber, um mestre) possuem a responsabilidade pessoal de “repartir [comunicar]” com ele as
coisas materiais. Essa é a maneira pela qual Deus suporta o ministério de Sua
Palavra entre Seu povo. Paulo não faz menção alguma de estabelecimento de um
sistema no qual o pregador possui uma folha de pagamento fixa – tal como é
praticado na maioria das denominações hoje. Comunicar na forma de que Paulo
fala aqui é puramente num nível pessoal,
porém tal comunicação também deveria ser feita num nível coletivo de igual forma. Filipenses 4:14-16 indica que assembleias
deveriam estar exercitadas quanto a ministrar financeiramente àqueles que
ensinam e pregam a Palavra.
Nos versículos 7-8, Paulo introduz o princípio do governo de Deus para
encorajar os gálatas a comunicarem aos servos do Senhor. Ele mostra que nas
tratativas governamentais de Deus existe algo como semear e ceifar. Ele não tem
apenas juízos disciplinares para corrigir o Seu povo, mas tem também favores
governamentais (num sentido prático), se eles fazem o bem. Portanto, semear e
ceifar possuem resultados tanto positivos como negativos. Esses versículos são
normalmente tomados em um sentido negativo e usados como um aviso, mas o
contexto é de um sentido positivo do governo de Deus. Paulo está nos
encorajando a semear no Espírito, porque certamente iremos ceifar de uma forma
positiva. É verdade que se semearmos na carne iremos “ceifar a corrupção”, mas também é verdade que se semearmos no
Espírito iremos “ceifar a vida eterna”.
Desde que isso é assim, a conclusão de Paulo é: “não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos”.
Isso era uma exortação necessária aos gálatas porque a mente legalista, por não
entender a verdadeira liberdade Cristã, normalmente é mesquinha com posses
materiais.
Paulo tinha outra razão para trazer o assunto do governo de Deus. Os
oponentes da graça argumentavam que se a lei não tivesse parte na vida do
crente, não haveria restrições quanto a uma conduta pecaminosa. Uma pessoa
poderia crer no Senhor Jesus para salvação e então entregar-se à uma vida
pecaminosa e ainda assim ela seria aceita por Deus. Paulo mostra aqui que
embora o crente seja sempre aceito (Ef 1:6), ele não ganha nada em viver
pecando. Se um filho de Deus escolhe viver após a carne, existe algo como o
governo do Pai na vida de Seus filhos disciplinando aqueles que voluntariamente
pecam no caminho. Um crente não consegue seguir pecando em sua vida sem pagar
um preço de sofrimento sob as mãos do Pai. O medo de ficar sujeito a Seu juízo
governamental em nossa vida deveria ser uma forte motivação para julgarmos a
carne e andarmos no Espírito (1 Pe 1:16-17). Nosso problema é que semeamos na
carne e então oramos por uma má colheita! Todavia, nada passa despercebido aos
olhos de Deus; Ele toma a conta de tudo e trata conosco segundo Seu grande amor
e perfeita sabedoria. Um de nossos hinos corretamente diz: “Todos os Seus atos para conosco são puro
amor”.
Se temos semeado na carne não
devemos desistir em desespero e pensar que não há esperança em seguir adiante.
É importante perceber que embora haja o juízo
governamental em relação com os nossos feitos errados, há também o perdão governamental para com aqueles
que se arrependem e julgam a si mesmos (1 Jo 1:9; Tg 5:15).
Se Deus vê um espírito humilhado e contrito em nós, Ele pode tirar de
sobre nós (perdoar) o juízo disciplinar que havia colocado sobre nós. Todos
experimentamos Sua misericórdia de uma ou outra forma. O Sr. Grant disse: “Não
procede a ideia de que Deus não pode intervir e nos livrar daquilo que
necessariamente seria o fruto de tal semeadura, se tão somente houver
verdadeiro julgamento próprio quanto a tal mau proceder na alma; porque para um
Cristão a sega de tal semeadura tem por objetivo produzir julgamento próprio, e
se a julgamos antes, pode ser que não haja necessidade alguma de colhê-la”.
Portanto, se falharmos, julguemo-nos a nós mesmos de maneira que possamos ser
restaurados e experimentarmos Seu perdão governamental; pode ser que não nos
seja necessário ceifar aquilo que semeamos. Há misericórdia com o Senhor.