Havendo falado da harmonia existente entre Pedro e ele, Paulo segue
enfatizando a plenitude de seu entendimento da revelação Cristã. Os difamadores
de Paulo insinuavam que ele era inferior aos outros apóstolos naquilo que diz
respeito ao seu conhecimento da verdade, e consequentemente, em sua pregação
estava faltando alguns elementos importantes – tal como guardar a lei. Como criam
que Paulo era deficiente em seu entendimento, eles falaram aos gálatas que a
pregação dele não poderia ser confiada.
Paulo responde a isso apresentando outro encontro que ele teve com
Pedro. Este acontecimento mostra que ele conhecia a verdade tão bem que os
outros apóstolos não puderam acrescentar nada a ele, no que diz respeito a seu
entendimento. Paulo omitiu elementos judaicos em sua pregação, tal como guardar
a lei e a circuncisão, não porque ele não entendia o evangelho, mas porque tais
coisas não têm parte na revelação Cristã.
V. 1 – Ele traz à memória
um acontecimento, registrado em Atos 15, onde o assunto do guardar a lei na
Igreja foi confrontado e resolvido. Quatorze anos após a primeira visita de
Paulo à Jerusalém, ele foi para lá novamente para tratar do que diz respeito à
necessidade de crentes serem ou não circuncidados e guardarem a lei. Paulo, e
aqueles que estavam com ele, não haviam subido à Jerusalém para serem
repreendidos pelos líderes de então por aquilo que estavam fazendo, nem era
também para procurar ter a aprovação deles naquilo que pregavam. Ele subiu à
Jerusalém “por uma revelação”. O
Senhor lhe revelou que ele deveria ir, e os irmãos em Antioquia estavam em
comunhão com isso (At 15:2). O propósito desta visita era considerar a relação
da lei com o evangelho e expedir uma declaração apostólica definitiva quanto a
isso.
Havia “alguns” que tinham vindo
de entre eles na Judeia que não estavam esclarecidos quanto ao relacionamento
da lei com o evangelho. Eles estavam essencialmente propondo o erro no qual os
gálatas haviam caído (At 15:1, 5, 24). Era correto, portanto, que os irmãos em
Antioquia levassem e tratassem o problema em sua origem (Jerusalém). Ao fazer
isso, a unidade do Espírito entre a assembleia em Jerusalém e a assembleia em
Antioquia seria mantida. Este é um princípio importante sobre o qual as
assembleias deveriam agir quando há dificuldades que surgem entre elas. Depois
de conferenciarem com os apóstolos acerca desta questão, a grande conclusão era
de que não havia palavra da parte de Deus para se colocar crentes gentios
debaixo da lei. Os apóstolos, portanto, emitiram uma carta com certos decretos
para a conduta Cristã que estritamente proibia a colocação de jugo (a lei)
sobre os gentios que criam no evangelho.
V. 2 – Paulo diz que
quando ele chegou a Jerusalém e foi recebido pela assembleia, em primeiro lugar
se comunicou “particularmente [privadamente – JND]” (separadamente dos outros)
com aqueles que “estavam em estima”.
Estes eram os “apóstolos e anciãos”
em Jerusalém (At 15:6). As mulheres e recém-convertidos não foram incluídos
nesta reunião, o que está em acordo com todas as atividades administrativas da
assembleia. Eles fizeram isso porque havia a possibilidade de a igreja se dividir.
Era bem conhecido que havia um forte elemento judaico em seu meio que não
estava liberto do judaísmo, o qual iria se opor à verdade do evangelho (At
15:5). Lidar com a questão em um fórum aberto (diante de todos) colocava a
comunhão dos santos em risco de ruptura e da igreja ser dividida em um lado
judeu e outro gentio.
Os apóstolos, de forma privada, foram completamente inteirados do
evangelho de Paulo de maneira que se tal coisa acontecesse eles poderiam lidar
com isso. Paulo diz: “para que de
maneira alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão”. O inimigo
gostaria de ter lançado os santos em confusão; tendo a assembleia inteira
reunida ele poderia facilmente ter feito isso, e o propósito de Paulo vir à
Jerusalém teria sido frustrado. Isso mostra que podem existir momentos quando é
necessário que os líderes responsáveis em uma assembleia se reúnam juntamente
para discutir certos assuntos que dizem respeito à assembleia local, sem que
estejam presentes aqueles que não estão estabelecidos ou que são governados por
emoções. Tais pessoas estando presentes estariam inclinadas a fazer alarde.
V. 3 – Os irmãos em
Antioquia “resolveram” (At 15:2) que
Paulo e Barnabé deveriam tomar consigo a Tito como um caso precedente. Tito era
um crente gentio que nunca havia sido circuncidado. O que os apóstolos em
Jerusalém teriam a dizer quanto a ele? É significativo que Pedro, Tiago e João
e os outros apóstolos nunca “constrangeram”
Tito a ser circuncidado! Isso provou que eles não viam isso como necessário.
Este fato era algo para os gálatas considerarem; se os apóstolos em Jerusalém
não viram isso ser uma coisa necessária, por que tinham eles então adotado tal
ideia?
Alguns podem dizer que Paulo havia cedido neste ponto porque ele
circuncidou Timóteo mais tarde (At 16:3). Porém, isso foi feito por uma razão
totalmente diferente. Ele fez isso por causa da sua liberdade no evangelho. Ele procurava ser “como” um judeu para alcançar e ganhar os judeus naquela área com o
evangelho. Ele disse que iria até ao ponto de fazer-se “como” “os que estão debaixo da lei”, mas ao dizer isso ele
rapidamente acrescentou “não estando eu
debaixo da lei”. Ele disse: “Para
ganhar os que estão debaixo da lei” (1 Co 9:20 – JND). Ele não cria que um
Cristão deveria estar sob a lei, mas faria vista grossa para ganhar, para
Cristo, alguns sob ela.
V. 4-5 – Além disso, quando
“falsos irmãos”, que haviam se
infiltrado na reunião privada, levantaram-se e tentaram convencer os outros que
Cristãos precisavam estar debaixo da lei, Paulo diz: “Aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição”. Seu ponto
aqui é igualmente poderoso. Os apóstolos testemunharam, em primeira mão, este
afrontamento e não ficaram do lado dos judaizantes que estavam no meio deles
impondo a guarda da lei! Em lugar disto, eles deram suporte a Paulo
posicionando-se pela “verdade do
evangelho”. E foi a partir da boca de Pedro que isso foi estabelecido (At
15:7-11).
Paulo diz claramente que estes judaizantes haviam se introduzido “secretamente [sorrateiramente – JND]” entre
os santos. Uma lição que podemos aprender disso é que existe a necessidade de
sermos cuidadosos na recepção. Os irmãos naqueles dias não foram cuidadosos e
essas pessoas acabaram entrando. Hoje, em quase todos os lugares, a igreja não
pratica princípios de recepção, e isso tem causado a entrada de muito mal e
muito dano na Igreja.
V. 6 – Já que os
judaizantes estavam estimando em demasia os líderes em Jerusalém, Paulo – não
intentando falar deles de maneira depreciativa – diz: “aqueles que eram distintos como sendo alguma coisa (o que tenham sido
não me faz diferença)” (JND). Seu ponto aqui era de que os apóstolos e
líderes em Jerusalém não o intimidavam, embora ele os respeitasse no Senhor (Mc
8:24; Jd 16).
Quando Paulo expôs aos outros apóstolos o seu evangelho, eles não
precisaram corrigir ou modificar o que ele pregava, como foi o caso com Apolo
quando Áquila e Priscila o tomaram e “lhe
expuseram com mais precisão o caminho de Deus” (At 18:24-28 – AIBB). Na
verdade, os apóstolos não podiam acrescentar “nada” a Paulo no que diz respeito à comunicação de maior luz e
conhecimento na revelação Cristã. Eles simplesmente reconheceram a fonte divina
de seu ministério e afirmaram sua verdade e perfeição.
Vs. 7-10 – Os apóstolos
reconheceram que o evangelho da “circuncisão”
havia sido confiado a Pedro, e o “evangelho
da incircuncisão” a Paulo. Paulo segue adiante e diz: “Aqu’Ele” que havia operado em Pedro, fazendo-o um apóstolo, era a
mesma Pessoa que havia operado nele, fazendo dele um apóstolo. “Esse”, obviamente, tratava-Se do
Senhor. Não somente os apóstolos em Jerusalém reconhecem e afirmam a verdade
que Paulo ensinava, mas alegremente prestam suporte a ele e a Barnabé em sua
obra, dando-lhes “as destras em comunhão”.
Este segundo acontecimento histórico responde à insinuação de que o
evangelho de Paulo era deficiente em certos elementos de doutrina, a saber, a exclusão
da lei no evangelho que ele pregava. Tal acontecimento prova que a acusação de
seus difamadores era completamente falsa.
Portanto, existem três coisas aqui que os santos gálatas precisavam
considerar. Os apóstolos de Jerusalém:
- Nunca insistiram para que Tito fosse circuncidado.
- Não dariam suporte ao elemento judaizante que havia se
levantado e pressionava para que crentes se colocassem debaixo da lei, antes
ficaram do lado de Paulo e contra tais pessoas.
- Alegremente reconheceram o ensino de Paulo e deram a ele e a Barnabé “as destras em comunhão”, em suporte àquilo que eles estavam fazendo.
O argumento de Paulo aqui é poderoso. Se os apóstolos em Jerusalém
estavam em feliz comunhão com aquilo que ele estava ensinando, por que então os
gálatas estavam tendo dificuldade com seus ensinamentos? Aqueles que eram “colunas” na Igreja estavam de acordo
com Paulo e não viam seus ensinamentos como imperfeitos de forma alguma.
Pensavam os gálatas serem mais espirituais e conhecedores do que os apóstolos
em Jerusalém? Condenar a doutrina de Paulo significava condenar os apóstolos
que davam suporte à sua pregação com as destras em comunhão! Isso mostrava que
os gálatas estavam num terreno perigoso. Eles haviam tomado uma posição que os
colocava em colisão, não apenas com Paulo, mas também com os outros apóstolos
que estavam em Jerusalém.