O Segundo Encontro de Paulo com Pedro - Cap. 2:1-10

Havendo falado da harmonia existente entre Pedro e ele, Paulo segue enfatizando a plenitude de seu entendimento da revelação Cristã. Os difamadores de Paulo insinuavam que ele era inferior aos outros apóstolos naquilo que diz respeito ao seu conhecimento da verdade, e consequentemente, em sua pregação estava faltando alguns elementos importantes – tal como guardar a lei. Como criam que Paulo era deficiente em seu entendimento, eles falaram aos gálatas que a pregação dele não poderia ser confiada.
Paulo responde a isso apresentando outro encontro que ele teve com Pedro. Este acontecimento mostra que ele conhecia a verdade tão bem que os outros apóstolos não puderam acrescentar nada a ele, no que diz respeito a seu entendimento. Paulo omitiu elementos judaicos em sua pregação, tal como guardar a lei e a circuncisão, não porque ele não entendia o evangelho, mas porque tais coisas não têm parte na revelação Cristã.
V. 1 – Ele traz à memória um acontecimento, registrado em Atos 15, onde o assunto do guardar a lei na Igreja foi confrontado e resolvido. Quatorze anos após a primeira visita de Paulo à Jerusalém, ele foi para lá novamente para tratar do que diz respeito à necessidade de crentes serem ou não circuncidados e guardarem a lei. Paulo, e aqueles que estavam com ele, não haviam subido à Jerusalém para serem repreendidos pelos líderes de então por aquilo que estavam fazendo, nem era também para procurar ter a aprovação deles naquilo que pregavam. Ele subiu à Jerusalém “por uma revelação”. O Senhor lhe revelou que ele deveria ir, e os irmãos em Antioquia estavam em comunhão com isso (At 15:2). O propósito desta visita era considerar a relação da lei com o evangelho e expedir uma declaração apostólica definitiva quanto a isso.
Havia “alguns” que tinham vindo de entre eles na Judeia que não estavam esclarecidos quanto ao relacionamento da lei com o evangelho. Eles estavam essencialmente propondo o erro no qual os gálatas haviam caído (At 15:1, 5, 24). Era correto, portanto, que os irmãos em Antioquia levassem e tratassem o problema em sua origem (Jerusalém). Ao fazer isso, a unidade do Espírito entre a assembleia em Jerusalém e a assembleia em Antioquia seria mantida. Este é um princípio importante sobre o qual as assembleias deveriam agir quando há dificuldades que surgem entre elas. Depois de conferenciarem com os apóstolos acerca desta questão, a grande conclusão era de que não havia palavra da parte de Deus para se colocar crentes gentios debaixo da lei. Os apóstolos, portanto, emitiram uma carta com certos decretos para a conduta Cristã que estritamente proibia a colocação de jugo (a lei) sobre os gentios que criam no evangelho.
V. 2 – Paulo diz que quando ele chegou a Jerusalém e foi recebido pela assembleia, em primeiro lugar se comunicou “particularmente [privadamente – JND](separadamente dos outros) com aqueles que “estavam em estima”. Estes eram os “apóstolos e anciãos” em Jerusalém (At 15:6). As mulheres e recém-convertidos não foram incluídos nesta reunião, o que está em acordo com todas as atividades administrativas da assembleia. Eles fizeram isso porque havia a possibilidade de a igreja se dividir. Era bem conhecido que havia um forte elemento judaico em seu meio que não estava liberto do judaísmo, o qual iria se opor à verdade do evangelho (At 15:5). Lidar com a questão em um fórum aberto (diante de todos) colocava a comunhão dos santos em risco de ruptura e da igreja ser dividida em um lado judeu e outro gentio.
Os apóstolos, de forma privada, foram completamente inteirados do evangelho de Paulo de maneira que se tal coisa acontecesse eles poderiam lidar com isso. Paulo diz: “para que de maneira alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão”. O inimigo gostaria de ter lançado os santos em confusão; tendo a assembleia inteira reunida ele poderia facilmente ter feito isso, e o propósito de Paulo vir à Jerusalém teria sido frustrado. Isso mostra que podem existir momentos quando é necessário que os líderes responsáveis em uma assembleia se reúnam juntamente para discutir certos assuntos que dizem respeito à assembleia local, sem que estejam presentes aqueles que não estão estabelecidos ou que são governados por emoções. Tais pessoas estando presentes estariam inclinadas a fazer alarde.
V. 3 – Os irmãos em Antioquia “resolveram” (At 15:2) que Paulo e Barnabé deveriam tomar consigo a Tito como um caso precedente. Tito era um crente gentio que nunca havia sido circuncidado. O que os apóstolos em Jerusalém teriam a dizer quanto a ele? É significativo que Pedro, Tiago e João e os outros apóstolos nunca “constrangeram” Tito a ser circuncidado! Isso provou que eles não viam isso como necessário. Este fato era algo para os gálatas considerarem; se os apóstolos em Jerusalém não viram isso ser uma coisa necessária, por que tinham eles então adotado tal ideia?
Alguns podem dizer que Paulo havia cedido neste ponto porque ele circuncidou Timóteo mais tarde (At 16:3). Porém, isso foi feito por uma razão totalmente diferente. Ele fez isso por causa da sua liberdade no evangelho. Ele procurava ser “como” um judeu para alcançar e ganhar os judeus naquela área com o evangelho. Ele disse que iria até ao ponto de fazer-se “como” “os que estão debaixo da lei”, mas ao dizer isso ele rapidamente acrescentou “não estando eu debaixo da lei”. Ele disse: “Para ganhar os que estão debaixo da lei” (1 Co 9:20 – JND). Ele não cria que um Cristão deveria estar sob a lei, mas faria vista grossa para ganhar, para Cristo, alguns sob ela.
V. 4-5 – Além disso, quando “falsos irmãos”, que haviam se infiltrado na reunião privada, levantaram-se e tentaram convencer os outros que Cristãos precisavam estar debaixo da lei, Paulo diz: “Aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição”. Seu ponto aqui é igualmente poderoso. Os apóstolos testemunharam, em primeira mão, este afrontamento e não ficaram do lado dos judaizantes que estavam no meio deles impondo a guarda da lei! Em lugar disto, eles deram suporte a Paulo posicionando-se pela “verdade do evangelho”. E foi a partir da boca de Pedro que isso foi estabelecido (At 15:7-11).
Paulo diz claramente que estes judaizantes haviam se introduzido “secretamente [sorrateiramente – JND]entre os santos. Uma lição que podemos aprender disso é que existe a necessidade de sermos cuidadosos na recepção. Os irmãos naqueles dias não foram cuidadosos e essas pessoas acabaram entrando. Hoje, em quase todos os lugares, a igreja não pratica princípios de recepção, e isso tem causado a entrada de muito mal e muito dano na Igreja.
V. 6 – Já que os judaizantes estavam estimando em demasia os líderes em Jerusalém, Paulo – não intentando falar deles de maneira depreciativa – diz: “aqueles que eram distintos como sendo alguma coisa (o que tenham sido não me faz diferença)” (JND). Seu ponto aqui era de que os apóstolos e líderes em Jerusalém não o intimidavam, embora ele os respeitasse no Senhor (Mc 8:24; Jd 16).
Quando Paulo expôs aos outros apóstolos o seu evangelho, eles não precisaram corrigir ou modificar o que ele pregava, como foi o caso com Apolo quando Áquila e Priscila o tomaram e “lhe expuseram com mais precisão o caminho de Deus” (At 18:24-28 – AIBB). Na verdade, os apóstolos não podiam acrescentar “nada” a Paulo no que diz respeito à comunicação de maior luz e conhecimento na revelação Cristã. Eles simplesmente reconheceram a fonte divina de seu ministério e afirmaram sua verdade e perfeição.
Vs. 7-10 – Os apóstolos reconheceram que o evangelho da “circuncisão” havia sido confiado a Pedro, e o “evangelho da incircuncisão” a Paulo. Paulo segue adiante e diz: “Aqu’Ele” que havia operado em Pedro, fazendo-o um apóstolo, era a mesma Pessoa que havia operado nele, fazendo dele um apóstolo. “Esse”, obviamente, tratava-Se do Senhor. Não somente os apóstolos em Jerusalém reconhecem e afirmam a verdade que Paulo ensinava, mas alegremente prestam suporte a ele e a Barnabé em sua obra, dando-lhes “as destras em comunhão”.
Este segundo acontecimento histórico responde à insinuação de que o evangelho de Paulo era deficiente em certos elementos de doutrina, a saber, a exclusão da lei no evangelho que ele pregava. Tal acontecimento prova que a acusação de seus difamadores era completamente falsa.
Portanto, existem três coisas aqui que os santos gálatas precisavam considerar. Os apóstolos de Jerusalém:
  • Nunca insistiram para que Tito fosse circuncidado.
  • Não dariam suporte ao elemento judaizante que havia se levantado e pressionava para que crentes se colocassem debaixo da lei, antes ficaram do lado de Paulo e contra tais pessoas.
  • Alegremente reconheceram o ensino de Paulo e deram a ele e a Barnabé “as destras em comunhão”, em suporte àquilo que eles estavam fazendo. 
O argumento de Paulo aqui é poderoso. Se os apóstolos em Jerusalém estavam em feliz comunhão com aquilo que ele estava ensinando, por que então os gálatas estavam tendo dificuldade com seus ensinamentos? Aqueles que eram “colunas” na Igreja estavam de acordo com Paulo e não viam seus ensinamentos como imperfeitos de forma alguma. Pensavam os gálatas serem mais espirituais e conhecedores do que os apóstolos em Jerusalém? Condenar a doutrina de Paulo significava condenar os apóstolos que davam suporte à sua pregação com as destras em comunhão! Isso mostrava que os gálatas estavam num terreno perigoso. Eles haviam tomado uma posição que os colocava em colisão, não apenas com Paulo, mas também com os outros apóstolos que estavam em Jerusalém.