A Morte e Ressurreição de Cristo Aplicada ao Crente

Vs. 19-21 – Nos últimos três versículos do capítulo, Paulo apresenta um resumo da verdade que ensinava em seu evangelho em conexão com a morte e ressurreição de Cristo em relação à lei. Se esta verdade é propriamente apreendida, uma pessoa não terá dificuldade em enxergar que a lei não tem aplicação alguma ao crente que é “justificado em Cristo”.
Na argumentação de Paulo com Pedro sobre essa particular verdade, ele muda da primeira pessoa do plural para a primeira pessoa do singular – de “nós” para “eu”, “me” e “mim”. Quando se tratava da verdade da identificação do crente com a morte e ressurreição de Cristo, ele não pôde dizer “nós” porque as ações de Pedro colocavam em dúvida se ele havia ou não entendido esta verdade, que é algo extremamente pessoal. Paulo tinha apreendido o significado disso e podia falar dela por si mesmo, mas as ações de Pedro não indicavam que ele estava no melhor entendimento disso. Paulo diz que se ele edificasse novamente as coisas que havia destruído, ele seria um “transgressor” (v. 18). Infelizmente, isso era o que Pedro havia feito.
Isso leva Paulo a mostrar que enquanto que a lei não pode justificar uma pessoa, ela pode matá-lo! Ele diz: “Pois eu, mediante a lei, morri para a lei” (v. 19 – TB). Em Romanos 7:9-11 ele se estende neste assunto, dizendo: “E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado e eu morri; E o mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte. Porque o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, me enganou, e por ele me matou”. Tal é a experiência de todo homem que ansiosamente tenta salvar a si mesmo guardando a lei. A lei o mata, e pronuncia a sentença de morte sobre ele. Em lugar de a lei dar vida, ela somente produz morte! Mas tendo morrido mediante a lei” o crente então está morto para a lei” (v. 19). Isto é, a lei não tem mais aplicação ao crente.
Novamente, em Romanos 7, Paulo diz: “Assim, meus irmãos, também vós estais [fostes tornados – JND] mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus. Porque, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, obravam em nossos membros para darem fruto para a morte. Mas agora estamos livres [desligados – TB] da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra” (Rm 7:4-6). A sentença de morte foi executada sobre o crente na Pessoa de Cristo. Morremos na morte de Cristo. E desde que a lei somente tem domínio sobre um homem enquanto ele vive (Rm 7:1), ela já não tem mais nada a dizer ao crente agora que ele está morto. J. N. Darby chamou a atenção que essa libertação do crente quanto à lei não surgiu por meio da morte da lei; é o crente que está morto. Já que você não pode fazer com que um homem morto guarde a lei, a lei não tem poder algum para tocar o Cristão. Ela o matou, e isso é tudo o que ela pode fazer. Portanto, na morte de Cristo, o crente é liberto da lei.
Uma antiga ilustração ajuda apreender isso melhor. Um homem foi executado por homicídio. Posteriormente foi provado que ele era culpado de vários outros homicídios. Mas a lei não tinha poder para tocá-lo. Ela já o havia matado, e não havia mais nada que ela pudesse dizer ou fazer para ele. Esta é a posição do Cristão em relação à lei de Moisés. Ela nos provou culpados e nos matou, e agora que nossa conexão com ela está cortada, a lei já não tem mais nada a nos dizer.
Paulo nos disse como ele morreu – “mediante a lei” (v. 19). Agora ele nos diz quando e onde ele morreu – na cruz de Cristo. Ele diz: “Já estou [fui] crucificado com Cristo” (v. 20). Nosso velho “eu” já se foi judicialmente diante de Deus na morte de Cristo. De fato, a epístola apresenta vários aspectos da morte de Cristo por várias razões:
·       No capítulo 1:4, a morte de Cristo coloca de lado meus pecados.
·       No capítulo 2:20, a morte de Cristo coloca a mim de lado
·       No capítulo 6:14, a morte de Cristo coloca o mundo de lado

A identificação do crente com Cristo não para na morte. Paulo segue dizendo: “e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”. O crente também está identificado com Cristo no outro lado da morte – na vida em ressurreição (Jo 20:22; Fp 3:10). Aqui é onde o Cristianismo realmente começa – do outro lado da morte – isso é: da morte de Cristo. É na Sua ressurreição e ascensão que somos trazidos à nossa plena posição Cristã e em contato com nossas bênçãos espirituais, e é onde nossa vida está, “escondida com Cristo em Deus” (Cl 3:3).
O crente não apenas escapa do juízo na morte de Cristo, mas em sua identificação com Cristo em ressurreição ele torna-se um vaso para expressão do novo “eu”, o qual é Cristo vivendo nele. Não é que Cristo pessoalmente habita no corpo físico de crentes (como faz o Espírito Santo), mas antes, a vida de Cristo está no crente. O ponto aqui não é tanto que devemos viver para Cristo, mas antes que devemos viver Cristo. O caráter de Cristo deve ser visto em nós.
Além disso, esta vida é para ser vivida “por fé, a fé do Filho de Deus” (Gl 2:20 – JND). Observe que não é fé no Filho de Deus, mas “a fé do Filho de Deus”. Isso significa que em cada passo da nossa vida Cristã devemos exibir o mesmo tipo de fé que o próprio Senhor exibiu quando andou neste mundo. O artigo “na” (v. 20 – ARC) antes da palavra “carne” não deveria estar no texto quando se refere à vida que o Cristão agora vive. Isto implicaria viver após as sugestões da natureza pecaminosa, e negaria todo o ponto da passagem. Não vivemos a nova vida na carne”, mas antes “em carne”, o que simplesmente significa em nosso corpo humano.
Deus sabe que a nova vida, em que devemos viver por fé, precisa de um objeto para sustentar nosso interesse. Portanto, Ele nos deu um novo Objeto para nossa vida – o “Filho de Deus”. Ele é mais do que suficiente para preencher e satisfazer nosso coração e mente. Note que este Objeto não é a lei de Moisés, mas uma Pessoa viva – Cristo. A fé enxerga a Cristo, o Filho de Deus, e olha para Ele; e, na medida em que estamos ocupados com Ele, como nosso Objeto, receberemos poder do Espírito de Deus para fazer as coisas que são agradáveis a Deus (Rm 8:4).
Não apenas temos um novo Objeto para nosso coração, mas temos também um novo motivo para uma conduta Cristã. Ele diz: “O qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim”. Observe também que Ele nos amou, e provou Seu amor entregando-Se a Si mesmo na Cruz. Eu verdadeiramente vivo, mas por quão grande custo! Tal amor gera amor em nosso coração, o qual produz obediência em nossa vida. Esta não é uma obediência legalista, mas uma obediência que é nascida a partir de devoção de coração a Cristo. Quando aquilo que Cristo fez por nós faz morada em nosso coração, é então produzida uma resposta de obediência em nossa vida que a lei jamais poderia produzir. Tal amor é a fonte da devoção na vida do crente.
Os oponentes da graça irão argumentar que se a lei não tivesse parte na vida do crente, não haveria restrições para uma conduta pecaminosa. Alguém poderia crer no Senhor Jesus para salvação e então seguir em uma vida de pecado. Paulo mostra aqui que existem novos princípios na vida do crente que o motivam – não a pecar – mas a viver uma vida piedosa.