Três Razões para Mencionar sua Conversão

Das muitas coisas que Paulo poderia ter mencionado sobre sua vida, enquanto não convertido, o que certamente iria nos distrair, o Espírito de Deus o leva a falar de três coisas significantes que dizem respeito ao assunto em pauta. Elas são introduzidas aqui porque possuem uma aplicação direta na dificuldade em que os gálatas haviam entrado.
1) V. 13 – A primeira razão para chamar a atenção para sua conversão era mostrar onde o seu zelo extremo em guardar a lei o tinha levado – Isso o fez um franco perseguidor da “Igreja de Deus”! Isso mostra que quanto mais alguém é envolvido no sistema de obras baseado na guarda da lei, tanto mais ele será antagônico aos princípios da graça, que é a essência do evangelho. Legalismo e graça são completamente opostos um ao outro e não podem permanecer em um terreno comum. A verdade disso deveria ter alarmado os gálatas. Significava que a linha em que estavam os levaria a serem oponentes diretos do evangelho da graça de Deus!
2) V. 14 – A segunda razão pela qual Paulo menciona os dias anteriores à sua conversão é para mostrar aos gálatas que ele era bem versado na religião dos judeus. E tinha excedido “em judaísmo a muitos” de seus “contemporâneos” (JND). Ele não estava se gloriando, mas dando a conhecer a eles que não era negligência de sua parte a omissão de elementos judaicos (guardar a lei, circuncisão, etc.) no seu evangelho. Paulo sabia tudo sobre essas coisas e as omitiu em suas pregações porque essas coisas não têm absolutamente nada a ver com a maneira de Deus de salvar por graça.
Observe que Paulo a chama de “a religião dos judeus” (Gl 1:14 – KJV); ele não diz que era a religião de Deus. Ele fala dessa forma porque o judaísmo tinha, há muito, sido colocado de lado e já não era reconhecido por Deus (Jo 4:21; Rm 11:1-16). O apóstolo João fala de modo semelhante, chamando as diferentes festas em Jerusalém de “a páscoa dos judeus” e “a festa dos judeus”. Ele não as chama de festas de Jeová (Jo 2:13, 5:1, 6:4, 7:2, 10:22, 11:55). O Senhor também indicou isso em Seu ministério. No começo de Seus dias de ministério Ele chamou o templo de “casa de Meu Pai” (Jo 2:16), e mais tarde de “Minha casa” (Mt 21:13), mas depois de ter sido formalmente rejeitado pela nação Ele deixou o templo e o chamou de “vossa casa” (Mt 23:38). Sendo assim, os gálatas precisavam entender que estavam adotando elementos de um sistema que havia sido deixado de lado por Deus. Eles claramente estavam indo para a direção errada.
3) Vs. 14-16 – A terceira razão pela qual Paulo menciona sua conversão é para demonstrar o poder de Deus para libertar alguém do legalismo. Ele mesmo havia sido “extremamente zeloso” da lei e das “tradições” de seus pais, mas Deus o libertou! E se Deus pôde libertar alguém zeloso como Saulo de Tarso, um que estava outrora muito mais arraigado ao legalismo do que os gálatas, Ele poderia certamente libertá-los. Isso mostra que a triste condição deles era recuperável. Este fato apresentado pelo apóstolo tinha a intenção de encorajar os gálatas a ouvir e agir naquilo que estava para lhes falar nesta epístola em relação ao erro deles.
É significativo que a conversão de Paulo aconteceu quando ele estava no caminho para Damasco (At 9). Paulo ouviu o chamado do Senhor quando ele estava viajando para fora de Jerusalém. E também não foi por acaso que o Senhor tenha ensinado a Seus discípulos a verdade da Igreja, pela primeira vez, quando Ele os havia levado para os limites territoriais ao norte da terra de Israel – o ponto mais longe de Jerusalém (Mt 16:13-18). Estas coisas são indicativas do fato de que judaísmo e Cristianismo são duas ordens contrastantes. Quanto mais alguém se afasta do judaísmo, tanto mais claramente enxergará a verdade do Cristianismo. Deus nunca teve a intenção de que ambos fossem misturados em uma ordem judaico-Cristã – um termo impróprio que caracteriza muito da Cristandade hoje.
O primeiro ponto de Paulo deve ter alarmado os gálatas e produzido uma busca em seus corações quanto ao caminho em que estavam. Seu segundo ponto deve ter feito com que eles percebessem que haviam adotado algo o qual Deus não apoiava. E este terceiro ponto deve tê-los preparado para ouvir aquilo que ele estava para escrever.
A mensagem de Paulo foi divinamente revelada a ele. Mas não foi apenas revelada a ele (v. 12) foi também revelada nele (v. 16). A partir de então, Paulo procurava pregar “Seu Filho” (não um sistema baseado em obras) “a toda criatura que há debaixo do céu” (Cl 1:23). Não era uma religião que ele pregava, mas um relacionamento com uma Pessoa divina – o Filho de Deus (At 9:20).