A Repreensão Necessária - Cap. 1:6-12

Esse sério afastamento da verdade do evangelho demandava uma repreensão severa. Normalmente nas epístolas de Paulo, após saudar os santos, ele os elogia por certas coisas que havia visto neles que glorificavam a Deus e Paulo os louva por isso. Porém, nesta epístola, ele não faz seu habitual elogio e ações de graças, nem os louva. Em lugar disto, ele parte diretamente para uma repreensão. Isso é bem impressionante, porque mesmo com os coríntios, em todos os seus erros, Paulo ainda encontrou coisas para elogiar. Mas este não era o caso aqui. Isso nos mostra a gravidade do erro no qual eles haviam caído.
V. 6-7 – Paulo se maravilha diante da instabilidade dos crentes da Galácia que tinham “tão depressa” se desviado após “outro evangelho, o qual não é outro”. Os gálatas podem ter pensado que estavam recebendo uma versão nova e melhorada do evangelho, mas na verdade tratava-se de “outro evangelho” (2 Co 11:4).
Neste momento Paulo não menciona o que é este outro evangelho. Ele deixa claro do que se tratava mais adiante na epístola, que era algo que envolvia acrescentar a lei de Moisés à obra de Cristo para justificação. (Gl 2:16-18). Como mencionado anteriormente, este era um erro grave que minava verdades fundamentais do Cristianismo. Misturar a lei com a graça faz a bênção do evangelho depender do homem cumprir sua responsabilidade em sua salvação e, essencialmente, impede a ação da graça, tornando a obra de Cristo por nós de nenhum proveito (Gl 5:4 – JND). Acrescentar a lei ao evangelho é na realidade “outro evangelho”. Não é algo que Paulo ou qualquer outro apóstolo ensinou (At 15:8-11; 2 Co 11:4).
Se de fato Derbe, Listra e Icônio eram as assembleias da Galácia, às quais Paulo estava escrevendo, era de se esperar que tivessem mais entendimento porque eles haviam recebido “os decretos” dos apóstolos que ditavam muito claramente que a lei de Moisés e a circuncisão não deveriam ser impostas sobre os santos (At 15:23-29, 16:4). Numa questão de cerca de cinco anos após Paulo ter pregado o evangelho naquela região (At 16:6), eles haviam “passado [se mudado – JND] daqu’Ele” que os tinha chamado. No texto original grego a palavra “mudado” está na voz reflexiva, implicando que a mudança estava ainda ocorrendo, o que iria continuar levando-os para ainda mais longe da verdade se não julgassem seu erro. Isso mostra que não tem como dizer quão longe alguém pode ir ao se apartar da fé. É algo verdadeiramente muito solene.
Paulo diz: “mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar [perverter – JND] o evangelho”. Note que ele não diz que estes mestres judaizantes negavam o evangelho, mas que pervertiam o evangelho. Eles não negavam diretamente a verdade da Pessoa de Cristo ou os fatos de Sua morte e ressurreição, mas tinham acrescentado (se isso fosse possível) à obra de Cristo na cruz. Eles ensinavam que Sua obra consumada não era suficiente para a salvação de alguém, mas que para ser salvo era necessário guardar a lei e ser circuncidado (At 15:1). Isso era uma perversão do evangelho e frequentemente uma perversão é mais perigosa do que uma clara negação do evangelho. Na perversão do evangelho existe verdade suficiente para enganar o Cristão descuidado, e existe também erro suficiente para anular a verdade.
Vs. 8-9 – Paulo não enfrenta os mestres judaizantes e nem tenta corrigi-los. Bem pode ser que ele os havia enxergado como apóstatas, e para tais não há arrependimento (Hb 6:4-6). Em lugar disso, ele lança seu anátema apostólico. Paulo declarou que havia uma maldição sobre todos que tinham falsificado ou alterado a mensagem do evangelho. Falando hipoteticamente, ele supõe que, se fosse possível, mesmo se ele e aqueles que trabalhavam com ele (“nós”) pregassem outro evangelho além daquele que os gálatas tinham ouvido dele, eles seriam “anátema”. E que se fosse possível um anjo descer do céu com outro evangelho ele também seria anátema. No versículo 9 ele diz: “Se alguém vos anunciar outro evangelho..., a palavra “alguém” aqui abrange além dos homens e refere-se a todas as criaturas de Deus, até mesmo anjos.
V. 10 – Paulo começa a falar dos seus motivos em servir ao Senhor. Ele diz: “Porque, persuado eu agora, a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo”. Ele coloca isso em questão porque era uma das coisas que caracterizavam os judaizantes que estavam inquietando os gálatas. Ao sugerir que não estava buscando “agradar a homens” ele estava na verdade expondo os motivos dos judaizantes para que os gálatas pudessem enxergar sem apontar diretamente o dedo para eles. Paulo indica em outro lugar que esses “falsos apóstolos” e “obreiros fraudulentos” (2 Co 11:13) viram o movimento do evangelho como uma oportunidade de ouro para conseguirem uma vida confortável para si mesmos (2 Co 2:17 – “um negócio” – JND). Eles, portanto, trabalharam duro para obter uma posição entre os santos gálatas que ainda não estavam firmados, passando-se por servos de Cristo. Eles agradavam homens servindo a eles para ganhar seguidores e o suporte monetário deles (Gl 4:17, 6:13; Jd 16). Em contraste com esta forma desonesta de ganho, Paulo não se inclinaria a tais princípios. (2 Co 11:8-9, 12:14-17). Ele não buscava o aplauso do homem, e nem queria o seu dinheiro.
Vs. 11-12 – Os três pontos que Paulo menciona no versículo 1, em relação ao seu apostolado, eram os mesmos em relação ao “evangelho” que ele pregava. O apostolado de Paulo não era “da parte de” homens e nem “por” homens (v. 1). Semelhantemente, o evangelho que ele pregava não era “segundo os homens” nem “de homem”. Não era de homem – naquilo que diz respeito à fonte e canais porque era algo totalmente externo ao homem. O que é do homem glorifica, honra e lisonjeia o homem e consequentemente será agradável aos homens. Tal era a linha de coisas com que se ocupavam os falsos mestres. O evangelho, por outro lado, rejeita todas as coisas relacionadas ao homem e introduz o que é infinitamente melhor em Cristo.
Aqueles que estavam pervertendo o evangelho estavam reivindicando possuir autoridade dada por Jerusalém (At 15:24). Em contraste com isso, Paulo mostra que sua autoridade era do céu. Ele possuía uma autoridade muito mais elevada para seu apostolado devido ao fato deste ter sido recebido por “revelação de Jesus Cristo”.