Esse sério afastamento da verdade do evangelho demandava uma repreensão
severa. Normalmente nas epístolas de Paulo, após saudar os santos, ele os elogia
por certas coisas que havia visto neles que glorificavam a Deus e Paulo os louva
por isso. Porém, nesta epístola, ele não faz seu habitual elogio e ações de
graças, nem os louva. Em lugar disto, ele parte diretamente para uma
repreensão. Isso é bem impressionante, porque mesmo com os coríntios, em todos
os seus erros, Paulo ainda encontrou coisas para elogiar. Mas este não era o
caso aqui. Isso nos mostra a gravidade do erro no qual eles haviam caído.
V. 6-7 – Paulo se maravilha
diante da instabilidade dos crentes da Galácia que tinham “tão depressa” se desviado após “outro evangelho, o qual não é outro”. Os gálatas podem ter pensado
que estavam recebendo uma versão nova e melhorada do evangelho, mas na verdade
tratava-se de “outro evangelho” (2
Co 11:4).
Neste momento Paulo não menciona o que é este outro evangelho. Ele deixa
claro do que se tratava mais adiante na epístola, que era algo que envolvia acrescentar
a lei de Moisés à obra de Cristo para justificação. (Gl 2:16-18). Como
mencionado anteriormente, este era um erro grave que minava verdades
fundamentais do Cristianismo. Misturar a lei com a graça faz a bênção do
evangelho depender do homem cumprir sua responsabilidade em sua salvação e,
essencialmente, impede a ação da graça, tornando a obra de Cristo por nós de
nenhum proveito (Gl 5:4 – JND). Acrescentar a lei ao evangelho é na realidade “outro evangelho”. Não é algo que Paulo
ou qualquer outro apóstolo ensinou (At 15:8-11; 2 Co 11:4).
Se de fato Derbe, Listra e Icônio eram as assembleias da Galácia, às
quais Paulo estava escrevendo, era de se esperar que tivessem mais entendimento
porque eles haviam recebido “os
decretos” dos apóstolos que ditavam muito claramente que a lei de Moisés e
a circuncisão não deveriam ser impostas sobre os santos (At 15:23-29, 16:4).
Numa questão de cerca de cinco anos após Paulo ter pregado o evangelho naquela
região (At 16:6), eles haviam “passado [se mudado – JND] daqu’Ele” que os tinha chamado. No texto original grego a palavra “mudado” está na voz reflexiva,
implicando que a mudança estava ainda ocorrendo, o que iria continuar
levando-os para ainda mais longe da verdade se não julgassem seu erro. Isso
mostra que não tem como dizer quão longe alguém pode ir ao se apartar da fé. É
algo verdadeiramente muito solene.
Paulo diz: “mas há alguns que vos
inquietam e querem transtornar [perverter
– JND] o evangelho”. Note que ele
não diz que estes mestres judaizantes negavam
o evangelho, mas que pervertiam o
evangelho. Eles não negavam diretamente a verdade da Pessoa de Cristo ou os
fatos de Sua morte e ressurreição, mas tinham acrescentado (se isso fosse
possível) à obra de Cristo na cruz. Eles ensinavam que Sua obra consumada não
era suficiente para a salvação de alguém, mas que para ser salvo era necessário
guardar a lei e ser circuncidado (At 15:1). Isso era uma perversão do evangelho
e frequentemente uma perversão é mais perigosa do que uma clara negação do
evangelho. Na perversão do evangelho existe verdade suficiente para enganar o
Cristão descuidado, e existe também erro suficiente para anular a verdade.
Vs. 8-9 – Paulo não enfrenta
os mestres judaizantes e nem tenta corrigi-los. Bem pode ser que ele os havia
enxergado como apóstatas, e para tais não há arrependimento (Hb 6:4-6). Em
lugar disso, ele lança seu anátema apostólico. Paulo declarou que havia uma
maldição sobre todos que tinham falsificado ou alterado a mensagem do
evangelho. Falando hipoteticamente, ele supõe que, se fosse possível, mesmo se
ele e aqueles que trabalhavam com ele (“nós”)
pregassem outro evangelho além daquele que os gálatas tinham ouvido dele, eles
seriam “anátema”. E que se fosse
possível um anjo descer do céu com outro evangelho ele também seria anátema. No
versículo 9 ele diz: “Se alguém
vos anunciar outro evangelho...”,
a palavra “alguém” aqui abrange além
dos homens e refere-se a todas as criaturas de Deus, até mesmo anjos.
V. 10 – Paulo começa a
falar dos seus motivos em servir ao Senhor. Ele diz: “Porque, persuado eu agora, a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a
homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo”.
Ele coloca isso em questão porque era uma das coisas que caracterizavam os
judaizantes que estavam inquietando os gálatas. Ao sugerir que não estava
buscando “agradar a homens” ele
estava na verdade expondo os motivos dos judaizantes para que os gálatas
pudessem enxergar sem apontar diretamente o dedo para eles. Paulo indica em
outro lugar que esses “falsos apóstolos”
e “obreiros fraudulentos” (2 Co
11:13) viram o movimento do evangelho como uma oportunidade de ouro para
conseguirem uma vida confortável para si mesmos (2 Co 2:17 – “um negócio” – JND). Eles, portanto,
trabalharam duro para obter uma posição entre os santos gálatas que ainda não
estavam firmados, passando-se por servos de Cristo. Eles agradavam homens
servindo a eles para ganhar seguidores e o suporte monetário deles (Gl 4:17,
6:13; Jd 16). Em contraste com esta forma desonesta de ganho, Paulo não se
inclinaria a tais princípios. (2 Co 11:8-9, 12:14-17). Ele não buscava o
aplauso do homem, e nem queria o seu dinheiro.
Vs. 11-12 – Os três pontos que
Paulo menciona no versículo 1, em relação ao seu apostolado, eram os mesmos em
relação ao “evangelho” que ele
pregava. O apostolado de Paulo não era “da
parte de” homens e nem “por”
homens (v. 1). Semelhantemente, o evangelho que ele pregava não era “segundo os homens” nem “de homem”. Não era de homem – naquilo
que diz respeito à fonte e canais porque era algo totalmente externo ao homem.
O que é do homem glorifica, honra e lisonjeia o homem e consequentemente será
agradável aos homens. Tal era a linha de coisas com que se ocupavam os falsos
mestres. O evangelho, por outro lado, rejeita todas as coisas relacionadas ao
homem e introduz o que é infinitamente melhor em Cristo.
Aqueles que estavam pervertendo o evangelho estavam reivindicando
possuir autoridade dada por Jerusalém (At 15:24). Em contraste com isso, Paulo
mostra que sua autoridade era do céu. Ele possuía uma autoridade muito mais
elevada para seu apostolado devido ao fato deste ter sido recebido por “revelação de Jesus Cristo”.