Paulo começa expondo de maneira simples e clara a autoridade de seu
apostolado (vs. 1-2) e os principais elementos do evangelho que pregava (vs.
3-5). Essas eram as duas coisas que seus opositores estavam desafiando. Este
tipo de franqueza era algo que infelizmente estava faltando em seus
difamadores, os quais tinham interesses ocultos.
V. 1 – Ele anuncia
claramente que era um “apóstolo”
expondo três fatos de tal verdade que eram irrefutáveis. O apostolado de Paulo:
- Não era “da
parte dos homens” como uma fonte
(v. 1a). Seu apostolado não emanava de homens – independentemente de quão
piedosos e bem-intencionados pudessem ser. A fonte da autoridade de Paulo era
muito mais elevada que o homem.
- Não era “por
homem” como meio (v. 1b). Ela não
veio como uma sucessão passada a ele vinda de
outros antes dele, nem era resultado de uma ordenação por outros.
- Era “por Jesus Cristo e por Deus Pai” (v. 1c).
Assim, isso não foi por meio de Pedro e dos outros apóstolos, mas de
Pessoas divinas na Divindade. Portanto, rejeitar Paulo como um apóstolo é
também rejeitar o Pai e o Filho que o comissionaram.
É significativo que Paulo diz: “...que O ressuscitou dos mortos”. A
ressurreição de Cristo é o selo de aprovação de Deus por aquilo que Cristo
realizou na cruz para a salvação do homem. Paulo menciona isso no início porque
aqueles que estavam inquietando os gálatas claramente não haviam entendido a
obra de Cristo. Eles pensavam que havia alguma coisa que o crente tinha que
fazer para assegurar sua salvação, a saber, guardar a lei. A ressurreição de
Cristo é a resposta de Deus para Sua obra consumada na cruz. Ao ressuscitar o
Senhor Jesus de entre os mortos Deus estava dizendo “Amém” para aquilo que
Cristo havia realizado. Não existe nada que possamos fazer para acrescentar a
essa obra perfeita e completa. Somos chamados a “crer” no testemunho de Deus quanto à satisfação da justiça divina
na obra de Cristo em expiação; aquele que crê nela é salvo (Jo 3:14-17). Ambos,
Pedro e Paulo, confirmam isto (Rm 4:24-25; 1 Pe 1:19-21).
V. 2 – Paulo acrescenta: “E todos os irmãos que estão comigo”.
Ele menciona isto para mostrar que aquilo que ele estava para escrever era
considerado ortodoxo[1]
pela maioria dos Cristãos daqueles dias. Eles estavam “com” Paulo no sentido de que estavam em concordância com ele e com
sua doutrina. Eles obviamente não estavam concordando com os erros judaizantes
os quais os gálatas haviam absorvido. Os gálatas precisavam entender que eles
haviam abandonado a fé comum dos irmãos como um todo. Isso também mostra que as
doutrinas da graça que Paulo ensinava não se tratavam de uma interpretação
particular de sua invenção; antes eram aquilo que “todos os irmãos” que eram ortodoxos sustentavam e ensinavam.
“Às assembleias da Galácia” (JND). É
significativo que isto esteja no plural. Elas não eram só uma, mas várias “assembleias” que tinham sido afetadas
pelo fermento desses judaizantes. Portanto, esta epístola foi escrita a todas
as assembleias daquela região. O caso deles ilustra como a má doutrina se espalha,
e porque deve ser impedida antes que venha a levedar toda a massa de crentes
(Gl 5:9; 2 Tm 2:17).
Paulo deseja “graça” e “paz” aos gálatas. Se eles haviam de
ser corrigidos quanto a este erro grave, iriam precisar de “graça” para o fazer; “paz”
seria o resultado. Ele não menciona misericórdia, como faz em suas saudações
nas suas epístolas pastorais, porque eles não poderiam esperar misericórdia de
Deus se recusassem a correção apostólica de Paulo nesta epístola.
Vs. 3-5 – Havendo declarado
o fato de seu apostolado, Paulo apresenta um resumo das principais verdades do
evangelho que pregava, já que isso também estava sob ataque.
- Paulo pregava que: “nosso Senhor Jesus Cristo, o Qual Se deu a Si mesmo por nossos
pecados”. Isto mostra que Paulo ensinava que o sacrifício do Senhor Jesus
Cristo na cruz era o meio de Deus de resolver a questão dos pecados do crente.
É digno de nota que ele não faz menção alguma de que o crente precise guardar a
lei para assegurar essa grande bênção.
- Paulo também pregava que a obra de Cristo livra o
crente do “presente século mau”. O
mundo é uma vasta sociedade que o homem construiu para se manter satisfeito em
sua alienação de Deus. Ele possui vários departamentos, tais como política,
religião, esportes, teatro, etc. É da “vontade
de Deus”, ao salvar almas, que elas sejam libertas de todo o curso deste
mundo, o qual está caminhando em direção ao juízo. Isso é significativo porque
o que os judaizantes estavam ensinando deixava a pessoa no mundo, isto é, o
lado religioso do mundo.
- O evangelho que Paulo pregava, se recebido em fé, produzia no redimido espontâneo louvor e adoração diretamente ao Pai e o Filho. Ele diz: “Nosso Pai, ao Qual glória para todo o sempre. Amém”. Isso, lamentavelmente, estava faltando entre os gálatas; legalismo não tinha feito outra coisa senão expulsado a liberdade de filiação para fora deles (Rm 8:15; Gl 4:6 – clamando “Aba Pai”).
O erro que eles haviam adotado essencialmente negava estes três
resultados básicos do evangelho: remoção de pecados, libertação do mundo, e
espontâneo louvor e ações de graças a Deus, o Pai. Tal erro, de maneira
prática, colocava de lado a obra de Cristo substituindo-a com as obras do homem
(guardar a lei). Isso abandonava o homem no mundo com suas formas e rituais de
religião terrena. E roubava o crente de sua liberdade de filiação na presença
do Pai. Consequentemente, o Cristão é deixado a certa distância de Deus, como
os santos estavam no Velho Testamento, adorando a Deus fora do véu (Hb
10:19-20), o que não é de modo algum o terreno Cristão.
[1]N. do T.:
Ortodoxo provém da palavra grega “orthos”
que significa “reto” e “doxa” que
significa “fé”. É o que está em conformidade com a doutrina tida como
verdadeira.