No livro de Atos, Paulo prega
o evangelho, na epístola aos Romanos ele ensina
o evangelho, porém em Gálatas ele o
defende. Gálatas é uma epístola corretiva, como são também as epístolas aos
coríntios. Ela foi escrita para corrigir o legalismo,
enquanto que a 1ª e 2ª epístolas aos Coríntios foram escritas para corrigir a iniquidade. O Cristão deve ser cuidadoso
com estes dois perigos opostos. Eles são como duas valas em ambos os lados do
caminho; os dois estão relacionados com permitir um lugar à carne na vida do
crente.
- Legalismo é uma tentativa de
controlar a carne por meio de regras e ordenações e assim produzir santidade no
crente.
- Iniquidade é dar liberdade para a carne e é um evidente desprezo à santidade.
As pessoas hoje acrescentam a lei ao evangelho por duas razões e ambas
são incorretas:
- A primeira é para justificação. Pessoas com esta linha de
pensamento estão essencialmente tentando trabalhar por sua salvação. Paulo
mostra no capítulo 2:16-17 que uma pessoa não pode ser justificada por guardar
a lei, mas tão somente “no princípio de
fé” (JND). Assim é improvável que qualquer que sustente tal visão seja
verdadeiramente salvo.
- A segunda é para santificação prática. Os que têm essa ideia pensam que guardar a lei é a maneira de Deus restringir a atividade da carne no crente, e assim, produzir santidade em sua vida.
Se esses mestres judaizantes lessem estas palavras provavelmente diriam
que não estamos representando adequadamente aquilo que eles creem e ensinam.
Talvez dissessem: “Não queremos confiar na lei em lugar de Cristo. Ensinamos
que é necessário crer em Cristo e que o crente deve também guardar a lei”. No
entanto, veremos nesta epístola que Paulo não irá permitir que coisa alguma
seja acrescentada a Cristo e Sua obra consumada. Salvação é somente por fé em
Cristo – ou não é salvação de modo algum. Cristo e alguma outra coisa a mais
não é o meio de salvação de Deus. Cristo suplementado
é, na verdade, Cristo suplantado! É a
falsificação do diabo para a salvação de Deus. Misturar a lei com a graça faz
com que as bênçãos do evangelho dependam do homem cumprindo suas responsabilidades
na sua salvação. Isso é minar seriamente a verdade do evangelho. Na sua
essência, essa mistura anula a graça, fazendo a obra de Cristo por nós ser de
nenhum proveito (Gl 5:4 – JND). Além disso, também coloca de lado a obra do
Espírito em nós (Gl 3:2), e transforma o Cristianismo numa religião de formas
externas e obrigações. Todas essas ideias colocam o Cristianismo um fundamento
errado e o faz como uma relação com o Senhor baseada em obras em lugar de uma
relação baseada em fé.
Uma grande parte da profissão Cristã caiu no erro dos gálatas e se
colocou debaixo da lei de Moisés – não tanto para serem justificados, mas como
uma regra para a vida Cristã. Portanto, esta epístola é hoje extremamente
necessária. Não nos enganemos, os falsos mestres que fizeram desviar os gálatas
possuem hoje uma multidão de descendentes – e estes estão igualmente
determinados tentando convencer Cristãos de que precisam guardar a lei
exatamente como estavam fazendo aqueles em dias passados. Quando apresentados à
verdade desta epístola aos gálatas eles irão dizer que isto não se aplica a
eles porque afinal eles não sustentam a doutrina de que um crente precise ser
circuncidado para ser salvo (At 15:1; Gl 5:2), e nem mesmo creem que um Cristão
deva observar ordenações judaicas e dias santos como faziam os gálatas (Gl
4:9-10). Todavia, eles se colocam sob a lei (os dez mandamentos) para se manter
salvos e usavam a lei numa tentativa de produzir santidade prática em sua vida.
Quando tudo isso é resumido, manifesta-se que na realidade trata-se de Cristo e
as boas obras do crente para obter-se salvação e santidade. Esta não é a verdade do evangelho.
Além disso, a partir do erro de se misturar lei e graça surge a confusão
da distinção intencionada por Deus entre judaísmo e Cristianismo. Estas são
duas maneiras completamente distintas de se aproximar de Deus em adoração,
ambas as quais foram por Deus destinadas a dois grupos de pessoas completamente
diferentes. Invariavelmente aqueles que seguem nessa linha judaico-Cristã irão
confundir o chamado de Israel com o da Igreja e suas respectivas esperanças.
Muitos deles nos dirão que somos o Israel espiritual e que as promessas e
concertos feitos aos patriarcas nos tempos do Velho Testamento foram cumpridos
na Igreja. Também nos dirão que estamos agora no Milênio, e que o Arrebatamento,
como sendo distinto da Aparição de Cristo, é um fruto de nossa imaginação.
Essas ideias errôneas podem ser classificadas sob o que é conhecido como
“Teologia Reformada”, porque os reformadores nos anos 1500, que romperam com o
catolicismo, sustentavam esses erros.
Sendo assim, esta epístola tem uma aplicação muito necessária para
aqueles que se colocam debaixo da lei, ainda que não seja no mesmo nível dos
mestres judaizantes daqueles dias.