Os que São Governados pelo Legalismo Tornam-se Uma Fonte de Contenda Entre Seus Irmãos - Cap. 4:22-31

Paulo passa a falar de outro triste resultado de se misturar lei e graça. O qual é: Aqueles que vivem nos princípios do concerto legal perseguirão aqueles que andam em graça e serão uma fonte de contenda entre seus irmãos. Novamente, os gálatas eram uma prova viva disso; eles estavam se mordendo e devorando uns aos outros (Gl 5:15)
Para demonstrar este efeito devastador da mistura de princípios de sistema legal com graça, Paulo se volta para uma “alegoria” do Velho Testamento. Os gálatas afirmavam entender a lei mosaica e estavam desejosos de ser confinados pelos seus preceitos; então certamente eles puderam ver a força de uma ilustração extraída de um dos livros de Moisés. A alegoria ilustra a incongruência que existe entre a lei e o evangelho e o inevitável antagonismo entre aqueles que são governados por princípios legalistas e os que andam em graça.
Vs. 22-23 – A alegoria apresenta Sara e seu filho em oposição com Agar e seu filho. Essas duas mulheres tinham dois relacionamentos totalmente diferentes com Abraão, os quais produziram resultados completamente distintos. Os dois filhos ilustram a diferença entre a servidão que existe no sistema legal e a liberdade no Cristianismo.
Vs. 24-27 – As duas mães representam dois concertos: Sara o novo concerto da graça, e Agar o antigo concerto da lei. “Agar” refere-se ao “monte Sinai”, o qual gera “filhos para servidão” e corresponde àquilo que “Jerusalém” é presentemente – o sistema legal. Por outro lado, a “livre” (Sara) vivia na casa de Abraão como sua esposa escolhida. Ela corresponde à “Jerusalém que é de cima” (Jerusalém celestial) – o inteiro sistema de graça divina. Ela é a mãe daqueles que permanecem na graça. Paulo cita Isaías 54:1 para enfatizar a liberdade que a graça traz. Quando a lei foi imposta no monte Sinai ninguém irrompeu em cânticos. Mas quando a graça alcançar a nação de Israel, num dia vindouro, haverá alegria e cânticos. “Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz: exalta de prazer com alegre canto”. Nota: Este gozo que a graça traz não é um resultado de suas obras e esforços; aqueles que “não” estão “de parto” são os que darão à luz suas crianças naquele dia!
Paulo então ensina uma lição muito tocante a partir desta alegoria. A “escrava” (Agar), que era uma serva na casa de Abraão vivendo sob ordens e regulamentos pertencentes ao seu papel naquela familia, podia somente dar à luz a um escravo (Ismael) – um que era tal como ela. Isso é o que a lei irá produzir – escravos! No entanto, Deus não quer escravos no Cristianismo – isso é, aqueles que são governados por regras e regulamentos. Temos notado que aqueles que são governados por princípios legalistas parecem abordar a conduta Cristã como uma questão de dever ao invés de um feliz privilégio. Por outro lado, a “livre” (Sara) vivia na casa de Abraão como a sua esposa escolhida. Ela deu à luz a um filho (Isaque) que não era um escravo, mas herdeiro de tudo quanto Abraão possuía. Ela é uma figura do que a graça produz; ela gera aqueles que andam na feliz liberdade e privilégio de filiação. Isso é o que Deus quer no Cristianismo.
O resultado dos dois filhos nascidos sob dois princípios opostos e habitando na mesma casa era que “aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que era segundo o Espírito” (v. 29). Os dois meninos não podiam viver juntos pacificamente; Ismael zombava da verdadeira semente, Isaque. A conclusão à qual Abraão chegou (por meio da sugestão de Sara) foi que o escravo-servo deveria dar lugar ao filho. A decisão, portanto, foi: “Lança fora a escrava e seu filho”. Ambos tinham de ir.
  • Agar corresponde à lei.
  • Ismael corresponde à carne sob a lei. 
Vs. 28-31 – Paulo faz uma aplicação poderosa a partir disso. Desde que os gálatas insistiam em seguir o exemplo de Abraão, Paulo aponta para uma coisa que Abraão fez e que eles precisavam seguir – ele lançou fora a serva e seu filho! Eles precisavam lançar fora a lei (como regra de vida) e a carne que desejava viver sob a lei. A coisa foi “mui má [dolorosa – JND]para Abraão – e isso provavelmente também era para os gálatas – mas Abraão o fez (Gn 21:9-14). Agora era a vez dos gálatas o fazerem também.
A perseguição de Ismael a Isaque ainda existe hoje, como Paulo disse: “assim é também agora” (v. 29). Estes dois princípios opostos de lei e graça não podem habitar juntos na Igreja. Aqueles governados por princípios legalistas serão contrários àqueles que vivem em graça, e serão uma fonte de contenda e divisão entre seus irmãos. O que temos observado é que assembleias que são marcadas por aqueles que vivem nesses dois princípios opostos são assembleias divididas; a unidade prática é constantemente ameaçada. É um fato triste que o legalismo alimente a contenda e a divisão entre os santos de Deus. A razão é que aqueles que vivem em linhas legalistas estão na verdade vivendo o Cristianismo “segundo a carne” – embora não vejam isso. Aqueles que andam na graça são o objeto da hostilidade e criticismo deles porque não andam pelas suas regras e regulamentos.
Se permitirmos o pensamento de que nosso favor com Deus seja o resultado de nosso bom andar e esforços para agradar o Senhor (a essência do legalismo), duas coisas negativas inevitavelmente resultarão. Em primeiro lugar, desenvolveremos uma postura de justiça própria de estarmos orgulhosos por estarmos guardando nossas regras e regulamentos. Em segundo lugar, faltaremos com graça em nossas interações com outros e nos tornaremos críticos daqueles que não aderem nossas regras. Isto certamente irá promover contenda e divisão entre irmãos.
Aqueles que insistem em princípios legalistas para governo dos santos manifestam:
a) Falta de entendimento da maneira pela qual Deus desenvolve crescimento espiritual nas almas. Espiritualidade e santidade não podem ser alcançadas ao se insistir em restrições legalistas impostas sobre crentes. Pode parecer funcionar por um tempo, porém tais meios não irão produzir resultados positivos e duradouros em Cristãos.
b) Falta de fé para confiar em Deus para realização de uma obra real em nossa alma de verdadeira espiritualidade e piedade. Esta falta de fé é manifesta em sua tentativa de realizar o trabalho de Deus em almas pelos meios carnais do legalismo.

V. 31 – O capítulo 3 terminou com o crente sendo visto como “semente” de Abraão, no que se refere a sua posição diante de Deus. O capítulo 4 encerra com o crente sendo visto como “crianças” de Sara no que diz respeito ao andar prático entre os homens. No entanto, é bem possível ser semente de Abraão, mas viver como filho de Agar! Este era o erro dos gálatas.