Os judaizantes estavam também reivindicando que as Escrituras do Velho
Testamento os apoiavam. Eles imaginavam que as Escrituras davam suporte a ideia
deles de que a lei deveria ser guardada para que uma pessoa fosse considerada
como justa. Paulo, portanto, volta-se para a lei e para os profetas para
mostrar que não havia verdade em tal ideia. Aquelas pobres almas pensavam que a
Palavra de Deus suportava sua posição, mas na verdade a Escritura provava
justamente o contrário. Isso mostra o quão cegos eles estavam. E, infelizmente,
aqueles líderes cegos tinham levado os cegos gálatas para a cova deles. (Mt
15:14).
As Santas Escrituras, portanto, tornaram-se a próxima testemunha de
Paulo em sua tese para provar que uma pessoa pode apenas ser considerada justa
no princípio de fé. Quatro citações são feitas por Paulo para mostrar a falta
de lógica em se dirigir à lei para bênção. Na verdade, em alguns poucos
versículos (vs. 6-16) ele faz citações das Escrituras do Velho Testamento não
menos do que sete vezes.
- V. 6 – Gênesis 15:6
- V. 8 – Gênesis 12:3
- V. 10 – Deuteronômio
27:26
- V. 11 – Habacuque 2:4
- V. 12 – Levítico 18:5
- V. 13 – Deuteronômio
21:23
- V. 16 – Gênesis 13:15
V. 10 – Moisés e Habacuque
são citados como representando a lei e os profetas. O que eles têm a dizer
sobre isso? Deuteronômio 27:26 é trazido primeiro para mostrar que a lei
demandava perfeição. Moisés disse: “Maldito
todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro
da lei, para fazê-las”. O ponto aqui é que uma pessoa deve permanecer guardando “todas” as injunções contidas na lei;
havia uma maldição sobre aquele que não o fizesse. Não era suficiente guardar a
lei por um dia, ou por uma semana, ou um mês; uma pessoa deveria continuar a
guardar a lei por toda a sua vida! Tampouco pedia a lei ao homem para tentar guardar seus mandamentos – dar à
lei a sua melhor tentativa não seria o suficiente. Ela demandava estrita e
perfeita obediência. Alguém sob a lei tinha que guardar seus mandamentos em
todos os pontos completa e totalmente. Tiago confirma isto, dizendo: “Porque qualquer que guardar toda a lei, e
tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos” (Tg 2:10).
Mas isso é exatamente o que ninguém foi capaz de fazer. Se as pessoas fossem
justificadas sob o princípio de guardar os mandamentos, então ninguém jamais
seria abençoado! No entanto, a Escritura é clara de que os santos do Velho
Testamento que estavam sob a lei foram abençoados e estão no céu agora. Assim
sendo, como então eles foram abençoados? E em quais bases eles foram para o
céu?
V. 11 – Habacuque é o
próximo a ser citado a fim de se responder a estas perguntas: Ele mostra que fé era o princípio sob o qual os filhos
de Deus foram abençoados naqueles tempos antigos – mesmo que estivessem debaixo
da lei! Ele diz: “o justo viverá pela
fé” (v. 11 – ARA). Isso é citado três vezes no Novo Testamento, e em cada
vez a ênfase está numa parte diferente do versículo. Em Hebreus 10:38 a ênfase
está na palavra “fé”, porque o
assunto ali é o andar no caminho de fé, como mostra o capítulo 11 da mesma
carta. Em Romanos 1:17 a ênfase está na palavra “justo”, pois a epístola é uma tese sobre justificação. Aqui em
Gálatas 3:11 a ênfase está na palavra “viverá”
porque o ponto que é salientado aqui pelo apóstolo é o de que alguém sob a lei
deve continuar por toda a sua vida a viver
em obediência à lei. Uma pessoa justa sob a lei, nos tempos do Velho
Testamento, era abençoada de Deus por conta de sua fé, e não por conta de suas
tentativas débeis e imperfeitas de guardar a lei.
V. 12 – Paulo acrescenta: “A lei não é no princípio de fé” (v. 12
– JND), isso é, a lei não demanda fé; ela demanda obediência. Moisés é citado
novamente: “o homem que fizer estas
coisas, por elas viverá” (ver também Rm 10:5). A pessoa sob a lei é
responsável por viver sua vida de acordo com aqueles mandamentos. A promessa
conectada com isso era de que a pessoa “viveria”.
O Senhor, quando falando ao doutor da lei que O havia tentado, confirmou isto,
dizendo: “faze isso, e viverás” (Lc
10:28). Todavia isso trata-se de um preceito teórico que é impossível de ser
alcançado pelo homem na carne. A história confirma este fato, visto que não
existe ninguém daqueles tempos antigos vivendo hoje. Isso solidifica o argumento.
Alcançar justiça diante de Deus no princípio de se guardar a lei (obras) ainda
não foi conseguido por ninguém! Sob esse fundamento, ninguém da raça humana
chegará ao céu.
Existem na realidade apenas duas religiões neste mundo. Uma diz: “FAÇA”, e a outra diz: “FEITO”. FAÇA é o que todos os credos e religiões requerem – incluindo guardar
a lei, mas FEITO é o que o evangelho
anuncia. Cristo consumou a obra de redenção, e tudo o que temos de fazer é crer
em tal obra e então somos salvos. A lei diz: “Faça e viva”. A graça diz: “Creia
e viva”.
Vs. 13-14 – O Testemunho das
Escrituras do Velho Testamento mostrou a incapacidade da lei de abençoar. Ela
pode somente amaldiçoar. Agora, nestes próximos versículos, vemos o triunfo da
graça de Deus em Cristo. Paulo não nos deixa sem esperança. Ele nos diz: “Cristo nos redimiu para fora da maldição
da lei” (v. 13 – JND). Redenção significa colocar em liberdade alguém que
está sob servidão. “Nos”, neste
versículo, se refere aos crentes judeus, pois os gentios nunca estiveram formalmente
debaixo da lei. A morte é a penalidade por violar a lei. Cristo, como o grande
Substituto, tomou o lugar daqueles que violaram a lei e sofreu a devida punição
(Sl 88; Is 53:8). Ele redimiu aqueles debaixo da lei ao pagar a pena de morte
que a lei demandava. A maldição de Deus caiu sobre Ele, e aqueles que creem
colhem o benefício disso.
A tradução galesa diz: “Cristo
nos redimiu completamente...”. O crente é totalmente liberto da lei. O ponto aqui é que não existe tal coisa
como estar parcialmente sob a lei. A Escritura não dá suporte à ideia de que a
obra de Cristo na cruz redime o crente parcialmente e que o crente faz o resto guardando
a lei.
Observe também que a Escritura não diz que Cristo redimiu o homem da
maldição da lei ao guardar os dez mandamentos perfeitamente durante o tempo de
Sua vida. Isso é um erro antigo na Cristandade. É verdade que Cristo guardou a
lei perfeitamente durante a Sua vida, mas a Sua perfeita obediência à lei não
foi imputada a nós que cremos. Não é este o meio pelo qual somos considerados
justos. Se Sua vida perfeita pudesse nos considerar justos, qual seria então o
propósito de Seus sofrimentos na morte?
A citação neste versículo (v. 13) de Deuteronômio 21:23 é ligeiramente
diferente do que está escrito em Deuteronômio. O versículo diz: “porquanto o pendurado é maldito de
Deus”. Mas em Gálatas, o Espírito de Deus nos dá um significado mais amplo,
dizendo: “Maldito todo aquele que
for pendurado no madeiro”. Isso incluiria os gentios. O ponto aqui é que se
os gentios se colocassem sob a lei, eles iriam sentir sua maldição também! Mas
por outro lado, se gentios possuem a fé de Abraão eles entrariam na “bênção de Abraão” (v. 14). Isso não
significa que crentes hoje herdam aquilo que foi prometido a Abraão
literalmente – isto é, bênção material na terra de Canaã (Gn 13:14-15). O
Espírito de Deus ao escrever isto é cuidadoso em dizer que esta bênção é “em Cristo Jesus” (v. 14 – JND). Este
termo refere-se a Cristo glorificado à destra de Deus. As bênçãos do Cristão
estão em um Homem ressurreto e glorificado que está à destra de Deus pela “promessa do Espírito”. Estas são
bênçãos espirituais alcançadas “pela fé”.