Paulo passa a falar de outro triste resultado de se misturar lei e
graça. O qual é: Aqueles que vivem nos
princípios do concerto legal perseguirão aqueles que andam em graça e serão uma
fonte de contenda entre seus irmãos. Novamente, os gálatas eram uma prova
viva disso; eles estavam se mordendo e devorando uns aos outros (Gl 5:15)
Para demonstrar este efeito devastador da mistura de princípios de
sistema legal com graça, Paulo se volta para uma “alegoria” do Velho Testamento. Os gálatas afirmavam entender a lei
mosaica e estavam desejosos de ser confinados pelos seus preceitos; então
certamente eles puderam ver a força de uma ilustração extraída de um dos livros
de Moisés. A alegoria ilustra a incongruência que existe entre a lei e o
evangelho e o inevitável antagonismo entre aqueles que são governados por
princípios legalistas e os que andam em graça.
Vs. 22-23 – A alegoria
apresenta Sara e seu filho em oposição com Agar e seu filho. Essas duas
mulheres tinham dois relacionamentos totalmente diferentes com Abraão, os quais
produziram resultados completamente distintos. Os dois filhos ilustram a
diferença entre a servidão que existe no sistema legal e a liberdade no
Cristianismo.
Vs. 24-27 – As duas mães
representam dois concertos: Sara o novo concerto da graça, e Agar o antigo
concerto da lei. “Agar” refere-se ao
“monte Sinai”, o qual gera “filhos para servidão” e corresponde
àquilo que “Jerusalém” é
presentemente – o sistema legal. Por outro lado, a “livre” (Sara) vivia na casa de Abraão como sua esposa escolhida.
Ela corresponde à “Jerusalém que é de
cima” (Jerusalém celestial) – o inteiro sistema de graça divina. Ela é a
mãe daqueles que permanecem na graça. Paulo cita Isaías 54:1 para enfatizar a
liberdade que a graça traz. Quando a lei foi imposta no monte Sinai ninguém
irrompeu em cânticos. Mas quando a graça alcançar a nação de Israel, num dia
vindouro, haverá alegria e cânticos. “Canta
alegremente, ó estéril, que não deste à luz: exalta de prazer com alegre canto”.
Nota: Este gozo que a graça traz não é um resultado de suas obras e esforços;
aqueles que “não” estão “de parto” são os que darão à luz suas
crianças naquele dia!
Paulo então ensina uma lição muito tocante a partir desta alegoria. A “escrava” (Agar), que era uma serva na
casa de Abraão vivendo sob ordens e regulamentos pertencentes ao seu papel
naquela familia, podia somente dar à luz a um escravo (Ismael) – um que era tal
como ela. Isso é o que a lei irá produzir – escravos! No entanto, Deus não quer
escravos no Cristianismo – isso é, aqueles que são governados por regras e
regulamentos. Temos notado que aqueles que são governados por princípios legalistas
parecem abordar a conduta Cristã como uma questão de dever ao invés de um feliz
privilégio. Por outro lado, a “livre”
(Sara) vivia na casa de Abraão como a sua esposa escolhida. Ela deu à luz a um
filho (Isaque) que não era um escravo, mas herdeiro de tudo quanto Abraão
possuía. Ela é uma figura do que a graça produz; ela gera aqueles que andam na
feliz liberdade e privilégio de filiação. Isso é o que Deus quer no
Cristianismo.
O resultado dos dois filhos nascidos sob dois princípios opostos e
habitando na mesma casa era que “aquele
que era gerado segundo a carne perseguia o que era segundo o Espírito” (v.
29). Os dois meninos não podiam viver juntos pacificamente; Ismael zombava da
verdadeira semente, Isaque. A conclusão à qual Abraão chegou (por meio da
sugestão de Sara) foi que o escravo-servo deveria dar lugar ao filho. A
decisão, portanto, foi: “Lança fora a
escrava e seu filho”. Ambos tinham de ir.
- Agar corresponde à
lei.
- Ismael corresponde à carne sob a lei.
Vs. 28-31 – Paulo faz uma
aplicação poderosa a partir disso. Desde que os gálatas insistiam em seguir o
exemplo de Abraão, Paulo aponta para uma coisa que Abraão fez e que eles
precisavam seguir – ele lançou fora a
serva e seu filho! Eles precisavam lançar fora a lei (como regra de vida) e
a carne que desejava viver sob a lei. A coisa foi “mui má [dolorosa – JND]” para Abraão – e isso provavelmente
também era para os gálatas – mas Abraão o fez (Gn 21:9-14). Agora era a vez dos
gálatas o fazerem também.
A perseguição de Ismael a Isaque ainda existe hoje, como Paulo disse: “assim é também agora” (v. 29). Estes
dois princípios opostos de lei e graça não podem habitar juntos na Igreja.
Aqueles governados por princípios legalistas serão contrários àqueles que vivem
em graça, e serão uma fonte de contenda e divisão entre seus irmãos. O que
temos observado é que assembleias que são marcadas por aqueles que vivem nesses
dois princípios opostos são assembleias divididas; a unidade prática é
constantemente ameaçada. É um fato triste que o legalismo alimente a contenda e
a divisão entre os santos de Deus. A razão é que aqueles que vivem em linhas legalistas
estão na verdade vivendo o Cristianismo “segundo
a carne” – embora não vejam isso. Aqueles que andam na graça são o objeto
da hostilidade e criticismo deles porque não andam pelas suas regras e
regulamentos.
Se permitirmos o pensamento de que nosso favor com Deus seja o resultado
de nosso bom andar e esforços para agradar o Senhor (a essência do legalismo), duas coisas negativas inevitavelmente
resultarão. Em primeiro lugar, desenvolveremos uma postura de justiça própria
de estarmos orgulhosos por estarmos guardando nossas regras e regulamentos. Em
segundo lugar, faltaremos com graça em nossas interações com outros e nos
tornaremos críticos daqueles que não aderem nossas regras. Isto certamente irá
promover contenda e divisão entre irmãos.
Aqueles que insistem em princípios legalistas para governo dos santos
manifestam:
a) Falta de entendimento da maneira pela qual
Deus desenvolve crescimento espiritual nas almas. Espiritualidade e santidade
não podem ser alcançadas ao se insistir em restrições legalistas impostas sobre
crentes. Pode parecer funcionar por um tempo, porém tais meios não irão
produzir resultados positivos e duradouros em Cristãos.
b) Falta de fé para confiar em Deus para realização de uma
obra real em nossa alma de verdadeira espiritualidade e piedade. Esta falta de
fé é manifesta em sua tentativa de realizar o trabalho de Deus em almas pelos
meios carnais do legalismo.
V. 31 – O capítulo 3
terminou com o crente sendo visto como “semente”
de Abraão, no que se refere a sua posição
diante de Deus. O capítulo 4 encerra com o crente sendo visto como “crianças” de Sara no que diz respeito
ao andar prático entre os homens. No
entanto, é bem possível ser semente de Abraão, mas viver como filho de Agar!
Este era o erro dos gálatas.