Vs. 19-20 – Neste ponto de sua
argumentação Paulo se desvia um pouco para responder algumas perguntas que ele
antecipa que as pessoas iriam fazer. A primeira é: “Logo, para que é a lei?” Este seria provavelmente o argumento que
seus opositores lhe lançariam. Eles diriam: “Se a justificação é somente por
fé, então qual era o objetivo de Deus em dar a lei? Ela não tem nenhum
propósito real!” A isto Paulo responde: a lei “foi ordenada por causa das transgressões”. Alguns têm erroneamente
entendido que isto significa que a lei foi dada para ajudar a refrear o pecado
no homem. Todavia, a lei não foi dada
como meio de controlar ou restringir o pecado na vida dos homens. A lei não tem
o poder de fazer isso – seja em incrédulos ou em crentes. Essa ideia errônea
estava no alicerce da doutrina dos judaizantes. Muitos Cristãos hoje têm essa
ideia também. Eles pensam que a lei irá restringir o mal em sua vida, e por
esta razão, se colocam sob ela. No entanto, a lei não tem poder para restringir
o mal na vida de uma pessoa. Ela não dá à pessoa uma natureza que deseja
guardar suas ordenanças, nem dá à pessoa o poder para cumpri-las.
A resposta de Paulo aqui indica que a lei foi trazida para realçar os
pecados e fazê-los conhecidos como “transgressões”.
Antes da lei, os homens estavam transgredindo em seu viver iníquo, mas suas
práticas iníquas não eram conhecidas como transgressões, porque a consciência
deles não estava totalmente iluminada a respeito de todas aquelas ofensas. Em
outro lugar, Paulo disse: “porque onde
não há lei, também não há transgressão” (Rm 4:15; 5:13). Há duas coisas na
Escritura que estão intimamente relacionadas nesta conexão – ofensas e
transgressões. Uma ofensa é passar
por cima de um limite conhecido, mas uma transgressão
é um consciente afastamento de Deus, tanto no coração como nos caminhos de uma
pessoa. Ambas as coisas foram trazidas à luz mediante a entrega da lei. A lei
traçou uma linha definida na consciência dos homens quanto ao que era certo e o
que era errado, aumentando assim sua culpa. Se você tem um menino que está
acostumado a ficar correndo pelas ruas e se misturando com pessoas
indesejáveis, trata-se de um mau hábito. Mas se você o proibir de sair com
essas pessoas, e então ele o faz novamente, isso já é uma transgressão. O que é
muito pior do que um mau hábito.
O propósito da lei, portanto, é iluminar a consciência e fazer com que o
pecado “se fizesse excessivamente
maligno” (Rm 5:20, 7:13). Se isto é entendido propriamente, uma pessoa
aprenderia o quão completamente sem esperança é o caso ela, e isso a pressionaria
quanto a sua necessidade da graça de Deus. A lei foi dada como uma medida
temporária “até que viesse a Posteridade
[Semente – TB] (Cristo) a Quem a promessa
tinha sido feita” (v. 19), e Ele realizasse a redenção (Gl 4:4-5).
É importante notar que não há nada de errado com a lei em si mesma. A
lei é “santa, justa, e boa” (Rm
7:12). Ela tem sua aplicação própria, não para pessoas justas, mas para os
transgressores (1 Tm 1:8-10). O propósito da lei é de revelar o pecado; “porque pela lei vem o conhecimento do
pecado” (Rm 3:20). A lei não pode remover o pecado ou guardar um pecador ou
um crente de pecar, mas ela revela o verdadeiro caráter do pecado. Da mesma
forma como um espelho é utilizado para mostrar a uma pessoa que ela está com o
rosto sujo – sua função não é lavar o seu rosto.
A lei “foi ordenada por meio de
anjos, pela mão de um mediador” (TB). À primeira vista, Paulo parece estar
se gloriando na lei, mas é justamente o contrário. Isso demonstra a
inferioridade da lei em relação à promessa. A promessa veio diretamente de Deus a Abraão, mas a lei
veio por uma mediação dupla. Portanto,
a promessa permanece num plano mais elevado.
No caso do concerto mosaico, ele foi estabelecido por meio de um “mediador” porque havia duas partes
envolvidas – Jeová e Israel. Os “anjos”
agiram da parte de Jeová (Sl 68:17 – KJV; At 7:53), e Moisés serviu como “mediador” da parte do povo. (A
mediação de Cristo é algo completamente diferente e não está em vista aqui). O
fato de que havia duas partes, indica que existiam condições envolvidas, e
obediência imposta a tais condições. O mediador está lá para certificar-se de
que ambas as partes cumpram sua parte do acordo. Tal era o caso quando da
entrega da lei. No entanto, no caso da promessa de Deus a Abraão, Ele era a
única parte ativa. Não havia necessidade de um mediador. A promessa feita à
Semente (Cristo) depende inteiramente daqu’Ele que prometeu – o próprio Deus.
Esta era a força da promessa – tudo dependia de Deus. A lei colocou obrigações
sobre o homem que ele é incapaz de guardar, enquanto que na graça Deus toma
conta de todas as coisas para a
bênção do homem.
V. 21 – Paulo antecipa uma
segunda questão de seus opositores: “Logo,
a lei é contra as promessas de Deus?” Esse era outro argumento que seus
opositores lhe lançariam. Eles iriam dizer: “Isso soa como se você estivesse
dizendo que a lei está em oposição às promessas”. Paulo responde: “De nenhuma sorte”. A lei teve seu
propósito, e a graça tem o seu propósito também; uma não entra em conflito com
a outra.
Ele segue a dizer que se Deus tivesse a intenção de que a lei provesse
justiça ao homem, Ele a teria dotado de poder para “vivificar” aquele que cumprisse suas imposições. Mas não existe
tal lei. A lei instrui, insiste, demanda, e até mesmo ameaça; e quando quebrada
condena o transgressor, mas ela não dá vida ou justiça. Como mencionado, a lei
não foi dada para este propósito.
Mesmo quando Deus deu a lei, Ele indicou ao Seu povo que bênção nunca
viria por meio dela. Isso é ilustrado num acontecimento registrado em
Deuteronômio 27:11-26. Moisés, aquele que deu a lei, instruiu a Israel a reunir
seis das doze tribos no monte Gerizim “para
abençoarem” e as outras seis no monte Ebal “para amaldiçoar”. É significativo que as seis tribos no monte Ebal
proferiram suas maldições, mas as seis tribos no monte Gerizim ficaram caladas!
Elas nunca abençoaram. Por quê? O acontecimento está registrado nas Escrituras
para ilustrar o fato de que A LEI NÃO
PODE ABENÇOAR; ela pode somente amaldiçoar.
Corra João e viva, a
lei ordena vá,
No entanto, nem
pernas ou mãos há;
Excelentes novas o
evangelho traz,
Estimas-me voar e
asas me dás.
V. 22 – A Escritura, de
maneira geral, conclui que “todas as
coisas” foram “encerradas” “debaixo do pecado” (v. 22 – JND). Isso
foi para que “a promessa no princípio de
fé de Jesus Cristo, pudesse ser dada àqueles que creem” (v. 22 – JND).