A Imutabilidade da Promessa de Graça Feita a Abraão - Cap. 3:15-25

Até então, Paulo demonstrou que a bênção de Deus é por fé e não por obras da lei a partir da experiência dos gálatas (vs. 1-5), a partir do exemplo de Abraão (vs. 6-9), e a partir do testemunho das Escrituras (vs. 10-14). Agora ele se volta para uma ilustração da vida cotidiana. Num parêntese ele diz: “como homem falo”. Ele compara a imutabilidade de um “testamento” feito em assuntos humanos com a imutabilidade do concerto que Deus fez com Abraão.
Este ponto no argumento era necessário em vista do fato de que alguns estavam prontos para admitir que Abraão foi considerado como justo por fé, mas argumentavam que Deus apenas operou naquele princípio até o momento em que a lei foi dada. Portanto, nesta série de versículos a seguir, Paulo mostra que a promessa em graça feita a Abraão e à sua Semente não era uma coisa temporária. A entrega da lei não alterou ou adicionou condições a essa grande promessa de Deus. Ela era permanente e imutável, e não poderia ser afetada pela subsequente entrega da lei.
V. 15 – Paulo prossegue em mostrar que esse princípio no qual Abraão foi abençoado era de fato permanente e imutável. Seu ponto é simples: em assuntos humanos, um “testamento” é assinado e selado e ninguém pode o “colocar de lado ou acrescer a ele outras disposições” (v. 15 – JND). Uma pessoa não pode vir mais tarde e alterar o documento adicionando ou removendo algo dele. E se testamentos humanos não podem ser violados, muito menos o de Deus! Mesmo assim, em essência, isso é o que aqueles que adicionam a lei à graça estão tentando fazer.
Vs. 16-18 – Além disso, o apóstolo cuidadosamente salienta que quando foi feita a promessa, ela foi feita “à Semente” (singular) de Abraão, e não “às sementes” (plural) (v. 16 - JND). A ausência da letra “s” muda completamente o significado da passagem. Gênesis 13:15 e 22:18 não se referem à família imediata de Abraão, mas ao Senhor Jesus Cristo que viria a partir da posteridade de Abraão. Ele é o Descendente direto de Abraão (Mt 1:1; Lc 3:34). Novamente, não saberíamos disso lendo o relato em Gênesis, mas o Espírito de Deus assim nos diz aqui. O ponto que aprendemos disso é que Deus prometeu abençoar “todas as nações” – judeu e gentio de igual modo – por meio de Cristo. E que a promessa era incondicional. “Deus a deu em graça a Abraão” (v. 18 – JND). A promessa não requereu obras de obediência legal. A vinda da lei 430 anos mais tarde não alterou a promessa.
Se as promessas feitas a Abraão estão agora condicionadas à chegada da lei mosaica, então elas deixam de ser um gracioso favor de Deus e tornam-se algo que alguém merece. Paulo diz: “Porque se a herança é no princípio de lei, já não é no princípio de promessa”. Porém ele segue a dizer: “Mas Deus a deu em graça a Abraão” (v. 18 – JND).
As promessas originais em graça foram dadas à parte da lei e serão cumpridas à parte da lei. A promessa de bênção dada a Abraão passou por baixo das tratativas dispensacionais de Deus com Israel e voltou à superfície quando a redenção foi realizada. A lei não traz as bênçãos da promessa; elas foram asseguradas pela morte e ressurreição do Senhor Jesus.

O Testemunho das Santas Escrituras - Cap. 3:10-14

Os judaizantes estavam também reivindicando que as Escrituras do Velho Testamento os apoiavam. Eles imaginavam que as Escrituras davam suporte a ideia deles de que a lei deveria ser guardada para que uma pessoa fosse considerada como justa. Paulo, portanto, volta-se para a lei e para os profetas para mostrar que não havia verdade em tal ideia. Aquelas pobres almas pensavam que a Palavra de Deus suportava sua posição, mas na verdade a Escritura provava justamente o contrário. Isso mostra o quão cegos eles estavam. E, infelizmente, aqueles líderes cegos tinham levado os cegos gálatas para a cova deles. (Mt 15:14).
As Santas Escrituras, portanto, tornaram-se a próxima testemunha de Paulo em sua tese para provar que uma pessoa pode apenas ser considerada justa no princípio de fé. Quatro citações são feitas por Paulo para mostrar a falta de lógica em se dirigir à lei para bênção. Na verdade, em alguns poucos versículos (vs. 6-16) ele faz citações das Escrituras do Velho Testamento não menos do que sete vezes.
  • V. 6 – Gênesis 15:6
  • V. 8 – Gênesis 12:3
  • V. 10 – Deuteronômio 27:26
  • V. 11 – Habacuque 2:4
  • V. 12 – Levítico 18:5
  • V. 13 – Deuteronômio 21:23
  • V. 16 – Gênesis 13:15 
V. 10 – Moisés e Habacuque são citados como representando a lei e os profetas. O que eles têm a dizer sobre isso? Deuteronômio 27:26 é trazido primeiro para mostrar que a lei demandava perfeição. Moisés disse: “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las”. O ponto aqui é que uma pessoa deve permanecer guardando “todas” as injunções contidas na lei; havia uma maldição sobre aquele que não o fizesse. Não era suficiente guardar a lei por um dia, ou por uma semana, ou um mês; uma pessoa deveria continuar a guardar a lei por toda a sua vida! Tampouco pedia a lei ao homem para tentar guardar seus mandamentos – dar à lei a sua melhor tentativa não seria o suficiente. Ela demandava estrita e perfeita obediência. Alguém sob a lei tinha que guardar seus mandamentos em todos os pontos completa e totalmente. Tiago confirma isto, dizendo: “Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos” (Tg 2:10).
Mas isso é exatamente o que ninguém foi capaz de fazer. Se as pessoas fossem justificadas sob o princípio de guardar os mandamentos, então ninguém jamais seria abençoado! No entanto, a Escritura é clara de que os santos do Velho Testamento que estavam sob a lei foram abençoados e estão no céu agora. Assim sendo, como então eles foram abençoados? E em quais bases eles foram para o céu?
V. 11 – Habacuque é o próximo a ser citado a fim de se responder a estas perguntas: Ele mostra que era o princípio sob o qual os filhos de Deus foram abençoados naqueles tempos antigos – mesmo que estivessem debaixo da lei! Ele diz: “o justo viverá pela fé” (v. 11 – ARA). Isso é citado três vezes no Novo Testamento, e em cada vez a ênfase está numa parte diferente do versículo. Em Hebreus 10:38 a ênfase está na palavra “fé”, porque o assunto ali é o andar no caminho de fé, como mostra o capítulo 11 da mesma carta. Em Romanos 1:17 a ênfase está na palavra “justo”, pois a epístola é uma tese sobre justificação. Aqui em Gálatas 3:11 a ênfase está na palavra “viverá” porque o ponto que é salientado aqui pelo apóstolo é o de que alguém sob a lei deve continuar por toda a sua vida a viver em obediência à lei. Uma pessoa justa sob a lei, nos tempos do Velho Testamento, era abençoada de Deus por conta de sua fé, e não por conta de suas tentativas débeis e imperfeitas de guardar a lei.
V. 12 – Paulo acrescenta: “A lei não é no princípio de fé” (v. 12 – JND), isso é, a lei não demanda fé; ela demanda obediência. Moisés é citado novamente: “o homem que fizer estas coisas, por elas viverá (ver também Rm 10:5). A pessoa sob a lei é responsável por viver sua vida de acordo com aqueles mandamentos. A promessa conectada com isso era de que a pessoa “viveria”. O Senhor, quando falando ao doutor da lei que O havia tentado, confirmou isto, dizendo: “faze isso, e viverás” (Lc 10:28). Todavia isso trata-se de um preceito teórico que é impossível de ser alcançado pelo homem na carne. A história confirma este fato, visto que não existe ninguém daqueles tempos antigos vivendo hoje. Isso solidifica o argumento. Alcançar justiça diante de Deus no princípio de se guardar a lei (obras) ainda não foi conseguido por ninguém! Sob esse fundamento, ninguém da raça humana chegará ao céu.
Existem na realidade apenas duas religiões neste mundo. Uma diz: “FAÇA”, e a outra diz: “FEITO”. FAÇA é o que todos os credos e religiões requerem – incluindo guardar a lei, mas FEITO é o que o evangelho anuncia. Cristo consumou a obra de redenção, e tudo o que temos de fazer é crer em tal obra e então somos salvos. A lei diz: “Faça e viva”. A graça diz: “Creia e viva”.
Vs. 13-14 – O Testemunho das Escrituras do Velho Testamento mostrou a incapacidade da lei de abençoar. Ela pode somente amaldiçoar. Agora, nestes próximos versículos, vemos o triunfo da graça de Deus em Cristo. Paulo não nos deixa sem esperança. Ele nos diz: “Cristo nos redimiu para fora da maldição da lei” (v. 13 – JND). Redenção significa colocar em liberdade alguém que está sob servidão. “Nos”, neste versículo, se refere aos crentes judeus, pois os gentios nunca estiveram formalmente debaixo da lei. A morte é a penalidade por violar a lei. Cristo, como o grande Substituto, tomou o lugar daqueles que violaram a lei e sofreu a devida punição (Sl 88; Is 53:8). Ele redimiu aqueles debaixo da lei ao pagar a pena de morte que a lei demandava. A maldição de Deus caiu sobre Ele, e aqueles que creem colhem o benefício disso.
A tradução galesa diz: “Cristo nos redimiu completamente.... O crente é totalmente liberto da lei. O ponto aqui é que não existe tal coisa como estar parcialmente sob a lei. A Escritura não dá suporte à ideia de que a obra de Cristo na cruz redime o crente parcialmente e que o crente faz o resto guardando a lei.
Observe também que a Escritura não diz que Cristo redimiu o homem da maldição da lei ao guardar os dez mandamentos perfeitamente durante o tempo de Sua vida. Isso é um erro antigo na Cristandade. É verdade que Cristo guardou a lei perfeitamente durante a Sua vida, mas a Sua perfeita obediência à lei não foi imputada a nós que cremos. Não é este o meio pelo qual somos considerados justos. Se Sua vida perfeita pudesse nos considerar justos, qual seria então o propósito de Seus sofrimentos na morte?
A citação neste versículo (v. 13) de Deuteronômio 21:23 é ligeiramente diferente do que está escrito em Deuteronômio. O versículo diz: “porquanto o pendurado é maldito de Deus”. Mas em Gálatas, o Espírito de Deus nos dá um significado mais amplo, dizendo: “Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”. Isso incluiria os gentios. O ponto aqui é que se os gentios se colocassem sob a lei, eles iriam sentir sua maldição também! Mas por outro lado, se gentios possuem a fé de Abraão eles entrariam na “bênção de Abraão” (v. 14). Isso não significa que crentes hoje herdam aquilo que foi prometido a Abraão literalmente – isto é, bênção material na terra de Canaã (Gn 13:14-15). O Espírito de Deus ao escrever isto é cuidadoso em dizer que esta bênção é “em Cristo Jesus” (v. 14 – JND). Este termo refere-se a Cristo glorificado à destra de Deus. As bênçãos do Cristão estão em um Homem ressurreto e glorificado que está à destra de Deus pela “promessa do Espírito”. Estas são bênçãos espirituais alcançadas “pela fé”.

O Exemplo de Abraão Sendo Considerado Como Justo - Cap. 3:6-9

V. 6 – Paulo passa então a falar de Abraão. Seu caso é tanto mais convincente, porque Abraão era aquele que, acima de todos os outros, era mais altamente estimado pelos mestres judaizantes. Eles se vangloriavam de que Abraão era seu pai e se vangloriavam nele como seu grande exemplo (Jo 8:39). O argumento deles era baseado no fato de que Deus tinha dito a Abraão que ele fosse circuncidado – e não apenas ele, mas também a sua família inteira, da qual eles reivindicavam pertencer (Gn 17:24-26).
Paulo, portanto, os apanha no próprio terreno deles. Como então Abraão foi considerado como justo diante de Deus? Ele simplesmente “creu em Deus” (Gn 15:6). E quando foi ele considerado como justo? Antes da lei ser dada! Ele nem mesmo ouviu falar da lei de Moisés em seus dias, e ainda assim foi considerado como justo “no princípio de fé” (v. 7 – JND). Além disso, Abraão foi considerado como justo antes de ser circuncidado! Vemos a partir disso que a circuncisão e a lei não tinham nada a ver com o fato dele ser considerado como justo.
Isso não deveria ser uma surpresa para nós porque a bênção de Deus no princípio de fé sempre foi Seu modo de trazer o homem à bênção. Desde o próprio início de Suas tratativas com o homem Ele somente o abençoou no princípio de fé. Hebreus 11:4 confirma isso: “Pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou o testemunho de que era justo”.
Vs. 7-8 – Os judaizantes imaginavam que pela sua (suposta) obediência à lei mosaica eles tinham se tornado herdeiros espirituais das promessas feitas a Abraão. Paulo, todavia, salienta que é somente por fé que uma pessoa se torna um filho de Abraão. Ele diz: “Sabei, pois, que os que são da fé [no princípio de fé – JND] são filhos de Abraão”. Não somente as bênçãos prometidas a Abraão foram cumpridas por fé, mas todos seus “filhos” são abençoados neste princípio também. Isso inclui crentes judeus como também gentios que iriam crer. Paulo dá suporte a este pensamento citando Gênesis 12:3, que diz: “Todas as nações serão benditas em ti”. Isso nos mostra que a promessa feita a Abraão era, em princípio, uma predição do evangelho. Ao ler esta citação de Gênesis 12:3 podemos ficar pensando como Paulo encontrou tal significado nesta passagem, todavia o Espírito Santo, que escreveu aquele versículo no Velho Testamento, o fez com a intenção de que víssemos que o evangelho (o qual é baseado no princípio de fé) estava nesta passagem. Não saberíamos disto se Paulo não tivesse, sob inspiração divina, nos explicado este significado encoberto.

Servimos ao Senhor por Fé

V. 5 – Depois que os gálatas foram salvos eles serviram ao Senhor como trabalhadores Cristãos. Alguém que ministrava entre eles, o fazia pelo Espírito e no Seu poder. A essência do ministério Cristão é dispensar a bênção do Espírito a outros. Isso seria tanto em doutrina como também poderia ser na operação de “maravilhas [milagres – ARA]. (Havia dons milagrosos e sinais sendo manifestos naqueles primeiros dias do testemunho Cristão – Mc 16:17-18; Hb 2:4). A pergunta de Paulo aos gálatas era: “O poder para operar esses milagres vem de se guardar a lei ou pela “pregação [mensagem – TB] da fé?””. Obviamente que era por fé.

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Assim Paulo mostrou, a partir da própria experiência dos gálatas, que a vida Cristã, do começo ao fim, é baseada no princípio de fé, e não tem nada a ver com guardar a lei (2 Co 5:7).

Sofremos por Causa da Nossa Fé

V. 4 – Os gálatas sofreram perseguição dos judeus por assumirem a posição Cristã, a qual é inteiramente baseada em fé. Paulo pergunta: “Será em vão que tenhais padecido tanto?” Todo aquele sofrimento que eles suportaram não serviu para nada? Aqueles que os tinham perseguido, que eram predominantemente seus irmãos judeus que estavam enganados, o fizeram porque os gálatas creram no evangelho em fé simples à parte da lei. Mas agora, ao se tornarem para a lei eles estavam como que dizendo que seus perseguidores, afinal, estavam certos!

Crescemos à Perfeição (Maturidade) Cristã por Fé

V. 3 – Mais duas perguntas são feitas. Elas endereçam outra falsa noção que os gálatas tinham – que perfeição Cristã pode ser alcançada pelas “obras da lei”. Muitos Cristãos hoje pensam isso. Eles irão admitir que um crente é justificado por fé, mas insistirão que ele deve guardar a lei depois de salvo como uma regra para sua vida; caso contrário (eles pensam) não haverá nada para impedir um crente de sair em direção a uma vida pecaminosa. Esta é a essência do legalismo. Legalismo é alguém intentar alcançar perfeição Cristã por meio do estabelecimento de regras e regulamentos para a carne, em lugar de ter a Cristo como a força motivadora em sua vida. Uma pessoa inclinada de tal forma pode fazer uso da lei de Moisés ou usar um conjunto de regras que ela impõe a si mesma, todavia em qualquer dos casos, maturidade Cristã não será produzida.
Paulo demonstra a falta de lógica disso perguntando: “Deus começa fazendo uma obra sob determinado princípio, e então a conclui sob um princípio oposto?” Se eles não puderam obter salvação por esforços carnais, como poderiam esperar crescer em santidade em direção à maturidade (“perfeição”) Cristã por meio de esforços carnais? A verdade é que a lei não justificará uma pessoa diante de Deus, e nem produzirá santidade num crente.
Pensar que o crente precisa da lei para guardá-lo de sair em direção ao pecado é não entender o poder da graça. Quando a graça de Deus toma conta da alma ela não o faz querer pecar; ela faz do crente um servo devoto do Senhor! Tal pessoa desejará andar no “Espírito”. Ela desejará mais de Cristo e viverá sua vida na esfera dos interesses de Cristo (Gl 5:16). Consequentemente, o poder do Espírito será manifesto em sua vida na forma de libertação das paixões malignas que emanam da natureza caída pecaminosa (Rm 8:2).

Somos Salvos por Fé

V. 2 – As próximas perguntas de Paulo recuam na história dos gálatas, desde a conversão até ao serviço deles para o Senhor. A própria experiência deles prova a loucura de guardar a lei para justiça. Paulo não questiona a salvação deles; ele toma por certo que eles possuíam o Espírito Santo. Os gálatas haviam “recebido” o Espírito (cap. 3:2); o problema deles é que não estavam sendo “guiados” pelo Espírito (cap. 5:18). Isto é instrutivo; embora tivessem sido salvos e selados com o Espírito Santo, eles se tornaram insensíveis, e foram enganados pelo inimigo das almas. Isso mostra que Cristãos verdadeiros não estão imunes aos ataques e sutis enganos do diabo. Crentes verdadeiros podem ser enganados por “espíritos enganadores e doutrinas de demônios” (1 Tm 4:1). Portanto, não é suficiente ter o Espírito habitando em nós para sermos guardados; devemos andar em comunhão com o Senhor.
Uma simples pergunta resolveria a questão no que diz respeito à salvação de uma pessoa ser ou não “pelas obras da lei”. Como os gálatas foram salvos? Receberam eles o Espírito Santo ao fazer obras da lei ou por crer no evangelho? Obviamente que foi por crer no evangelho. Ninguém jamais recebeu o Espírito por guardar a lei. A experiência dos próprios gálatas deveria tê-los ensinado que bênção vem “no princípio de fé” (v. 9 – JND) e não por guardar a lei.
Muitos Cristãos hoje estão orando para receberem o Espírito Santo, não percebendo que eles já possuem a habitação do Espírito. O Espírito faz Sua morada numa pessoa no momento em que ela crê no evangelho de sua salvação (Ef 1:13). As Escrituras nos dizem que se um crente entende que Deus é seu Pai e consegue elevar sua voz em oração a Ele, clamando: “Aba, Pai”, isso é uma prova de que ele tem o Espírito habitando nele (Rm 8:14-15; Gl 4:6).

A Experiência dos Gálatas em sua Conversão a Deus - Cap. 3:1-5

V. 1 – Paulo começa fazendo seis perguntas aos gálatas com o propósito de abrir os olhos deles e alcançar a consciência. As respostas a estas perguntas são tão óbvias que ele não as declara.
Sua primeira pergunta é: “Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade?” Ele lhes pergunta “quem” era o responsável por esse erro no qual haviam entrado. Esta palavra no grego está no singular. Aparentemente havia uma pessoa em particular que era culpada. Ele pode ter sido um mestre preeminente, ou como alguns expositores sugerem, tratava-se do próprio diabo. Qualquer que fosse o caso, os gálatas tinham sido feitos presas de seus enganos. Paulo os chama de “insensatos” porque eles não parecem ter o senso espiritual para perceber que tinham sido enganados. Eram como homens “fascinados” sob um feitiço maligno.
Como na maioria dos casos de abandono, houve um curso que os tinha levado a engolir a mentira do diabo. Aparentemente os gálatas tiveram quatro os estágios:
  1. Eles estavam “passando [desertando – AIBB] daqu’Ele que os tinha chamado – Cristo (cap. 1:6). Eles estavam fora de comunhão com o próprio Senhor.
  2. Foram “fascinados” pelo inimigo (cap. 3:1). Seguindo adiante, fora de comunhão com o Senhor, tornaram-se vulneráveis às sutis operações do inimigo que os confundiu quanto à verdade.
  3. Se “sujeitaram” (TB) à religião terrena da qual haviam se desviado (cap. 5:1).
  4. Foram “impedidos [parados – JND] de seguir adiante em verdadeira liberdade Cristã (cap. 5:7).
Paulo prosseguiu, dizendo: “perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidentemente apresentado, crucificado entre vós” (v. 1 – KJV). Isto é o que Paulo tinha feito ao lhes apresentar o evangelho. Ele havia apresentado diante deles Cristo crucificado, e eles creram nesta mensagem para salvação da alma. Pregar Cristo crucificado era a essência da pregação de Paulo em todo lugar que ele foi (1 Co 2:2). É uma característica de um bom pregador ou mestre “apresentar” a verdade de forma “evidentemente” e clara. Falsos mestres são normalmente obscuros – particularmente aqueles arraigados ao legalismo. Independentemente de quão simples e claramente Paulo havia ensinado os gálatas, eles tinham tirado seus olhos de Cristo crucificado e estavam olhando para a lei a fim de obterem justificação e santidade. Eles perderam de vista o propósito e significado da cruz e engoliram uma mentira.

A Bênção de Deus é sob o Princípio de Fé à Parte das Obras

O que a lei não pôde fazer e aquilo que a graça fez pelo crente é agora revelado. Neste capítulo, Paulo enfatiza principalmente os resultados positivos que o evangelho traz ao crente, os quais a lei não pode dar. No capítulo 4, ele enfatizará os efeitos negativos que o legalismo tem sobre o Cristianismo quando os dois são misturados.
Neste capítulo ele não apresenta aos gálatas a verdade do evangelho da maneira como está acostumado a ensinar, mas lhes apresenta razões sobre certos fatos irrefutáveis. Paulo comunica a verdade desta forma porque eles haviam se tornado insensíveis (“insensatos”) e ele queria que eles voltassem a pensar de maneira racional. Portanto, o capítulo é doutrinal, porém toma a forma de súplica, argumentação e perguntas.
Paulo apresenta quatro argumentos que provam irrefutavelmente que a bênção de Deus no evangelho é sobre a base de fé e não de obras. Ele argumenta a partir:
  • da experiência dos próprios gálatas (vs. 1-5).
  • da experiência de Abraão (vs. 6-9).
  • do testemunho das Santas Escrituras (vs. 10-14).
  • das bênçãos da promessa feita aos patriarcas do Velho Testamento que são incondicionais (vs. 15-25).


O Evangelho Defendido por Paulo (Capítulos 3-4)

No capítulo 1, Paulo falou da fonte do seu apostolado – vinha do próprio Senhor. No capítulo 2 ele falou do poder do seu apostolado – capaz de resistir aos judaizantes no concílio em Jerusalém e mesmo de repreender o apóstolo Pedro. Agora no capítulo 3, ele fala da mensagem do seu apostolado – o evangelho e as bênçãos que ele concede àqueles que creem nele.
Se os dois primeiros capítulos foram de caráter pessoal, os próximos dois capítulos (3-4) são de caráter polêmico (defendendo a fé por argumento).

Resumo dos Três Encontros de Paulo com Pedro

  1. Seu primeiro encontro responde à falsa acusação de que Paulo era um pregador renegado que não estava no mesmo passo com os apóstolos. Havia, de fato, perfeita harmonia entre ele e Pedro e os outros na Judeia (cap. 1:18-24).
  2. Seu segundo encontro responde à insinuação de que Paulo era deficiente em seu entendimento da revelação Cristã e, portanto, não poderia haver confiança em sua pregação. Esse relato estabelece que os outros apóstolos não podiam acrescentar algo a Paulo quanto ao entendimento da verdade. Eles reconheceram isto e deram-lhe “as destras em comunhão” em sua pregação e ensino (cap. 2:1-10).
  3. Seu terceiro encontro responde à acusação de que ele não tinha autoridade como um apóstolo. O relato em Antioquia estabelece o fato de que a autoridade de Paulo como um apóstolo não era inferior à de Pedro, e isso foi demonstrado em sua repreensão a Pedro (cap. 2:11-21). 
Isso prepara o palco para a defesa do evangelho que Paulo pregava nos próximos dois capítulos. Ao entender estes fatos a respeito de seu apostolado, os gálatas estariam prontos para receber o ensino de Paulo quanto à verdade da liberdade Cristã separada da lei.

A Nova Vida Não Precisa de Lei

O erro de tentar acrescentar a lei à graça é assumir uma premissa que é totalmente falsa. Colocar a nova natureza sob a lei é supor que existe alguma coisa na nova vida que quer fazer o errado. Mas não existe nela tal impulso. A nova vida não deseja nada além de fazer a vontade de Deus, e, portanto, tudo o que ela  precisa é instrução quanto a isso. Deus nos deu as Escrituras para que possamos conhecer a Sua vontade, e também nos deu o Espírito Santo para nos dar o poder de fazê-la. Na medida em que o crente olha para Cristo e é assim capacitado pelo Espirito Santo, ele irá fazer aquelas coisas que serão agradáveis a Sua vista. Ele irá cumprir os “justos requerimentos (morais) da lei” sem estar debaixo da lei (Rm 8:4 – JND). Na verdade, ao viver a vida de Cristo, o crente irá muito além dos padrões morais da lei, como exibido na vida do Senhor, enquanto andou aqui.
Logo, pensar que a lei é necessária para guiar a nova vida, manifesta uma grosseira falta de entendimento da lei e da nova natureza no crente. A lei não pode corrigir a carne, e a nova vida não precisa da lei.

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Não devemos perder a linha de raciocínio de Paulo na defesa de seu apostolado. A razão para mencionar este terceiro encontro com Pedro é mostrar que Paulo não era nem um pouco inferior a ele, mesmo que Pedro fosse reputado como sendo o principal apóstolo. O ponto que os gálatas precisavam entender aqui era que não somente Pedro tinha sido repreendido por Paulo, mas que Pedro aceitou a correção! A segunda epístola de Pedro mostra que ele tinha recebido a correção de Paulo e que também se beneficiou dela (2 Pe 3:15-16). Os gálatas podiam aprender do exemplo de Pedro; se Paulo tinha o poder de corrigir o principal apóstolo, então certamente ele tinha o poder de os corrigir. Portanto, eles deveriam estar desejosos de receber a correção de Paulo quanto à posição e prática Cristã à parte da lei, como Pedro fez.

Quatro Novas Coisas na Vida do Crente

Assim, como resultado da identificação do crente com Cristo em ressurreição, existem agora quatro grandes coisas que governam sua vida. O crente tem:
  1. Uma nova vida“Cristo vive em mim”.
  2. Um novo poder“fé”.
  3. Um novo Objeto – o “Filho de Deus”.
  4. Um novo motivo“o Qual me amou”. 
Paulo conclui dizendo: “Não coloco de lado a graça de Deus; porque se a justiça é por lei, então Cristo morreu para nada” (v. 21 – JND). O propósito todo da morte de Cristo cai por terra como desnecessário se a justiça pode ser obtida por se guardar a lei. Se existisse uma maneira legítima de pecadores serem salvos e terem uma posição justa diante de Deus, por que Deus teria enviado Seu Filho à cruz e permitido que Ele sofresse insondáveis agonias? Cristo poderia ter sido poupado de todo aquele sofrimento para fazer a expiação. Sugerir que haveria na verdade outro meio de salvar pecadores (isto é, pela lei deles) e que ainda assim Deus fez Cristo sofrer no Calvário, é lançar um enorme insulto ao coração de Deus. Isso também despreza a grandiosidade da obra de Cristo. Estas são sérias ramificações que resultam de se ensinar que a justiça pode ser obtida pelo guardar da lei.

A Morte e Ressurreição de Cristo Aplicada ao Crente

Vs. 19-21 – Nos últimos três versículos do capítulo, Paulo apresenta um resumo da verdade que ensinava em seu evangelho em conexão com a morte e ressurreição de Cristo em relação à lei. Se esta verdade é propriamente apreendida, uma pessoa não terá dificuldade em enxergar que a lei não tem aplicação alguma ao crente que é “justificado em Cristo”.
Na argumentação de Paulo com Pedro sobre essa particular verdade, ele muda da primeira pessoa do plural para a primeira pessoa do singular – de “nós” para “eu”, “me” e “mim”. Quando se tratava da verdade da identificação do crente com a morte e ressurreição de Cristo, ele não pôde dizer “nós” porque as ações de Pedro colocavam em dúvida se ele havia ou não entendido esta verdade, que é algo extremamente pessoal. Paulo tinha apreendido o significado disso e podia falar dela por si mesmo, mas as ações de Pedro não indicavam que ele estava no melhor entendimento disso. Paulo diz que se ele edificasse novamente as coisas que havia destruído, ele seria um “transgressor” (v. 18). Infelizmente, isso era o que Pedro havia feito.
Isso leva Paulo a mostrar que enquanto que a lei não pode justificar uma pessoa, ela pode matá-lo! Ele diz: “Pois eu, mediante a lei, morri para a lei” (v. 19 – TB). Em Romanos 7:9-11 ele se estende neste assunto, dizendo: “E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado e eu morri; E o mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte. Porque o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, me enganou, e por ele me matou”. Tal é a experiência de todo homem que ansiosamente tenta salvar a si mesmo guardando a lei. A lei o mata, e pronuncia a sentença de morte sobre ele. Em lugar de a lei dar vida, ela somente produz morte! Mas tendo morrido mediante a lei” o crente então está morto para a lei” (v. 19). Isto é, a lei não tem mais aplicação ao crente.
Novamente, em Romanos 7, Paulo diz: “Assim, meus irmãos, também vós estais [fostes tornados – JND] mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus. Porque, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, obravam em nossos membros para darem fruto para a morte. Mas agora estamos livres [desligados – TB] da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra” (Rm 7:4-6). A sentença de morte foi executada sobre o crente na Pessoa de Cristo. Morremos na morte de Cristo. E desde que a lei somente tem domínio sobre um homem enquanto ele vive (Rm 7:1), ela já não tem mais nada a dizer ao crente agora que ele está morto. J. N. Darby chamou a atenção que essa libertação do crente quanto à lei não surgiu por meio da morte da lei; é o crente que está morto. Já que você não pode fazer com que um homem morto guarde a lei, a lei não tem poder algum para tocar o Cristão. Ela o matou, e isso é tudo o que ela pode fazer. Portanto, na morte de Cristo, o crente é liberto da lei.
Uma antiga ilustração ajuda apreender isso melhor. Um homem foi executado por homicídio. Posteriormente foi provado que ele era culpado de vários outros homicídios. Mas a lei não tinha poder para tocá-lo. Ela já o havia matado, e não havia mais nada que ela pudesse dizer ou fazer para ele. Esta é a posição do Cristão em relação à lei de Moisés. Ela nos provou culpados e nos matou, e agora que nossa conexão com ela está cortada, a lei já não tem mais nada a nos dizer.
Paulo nos disse como ele morreu – “mediante a lei” (v. 19). Agora ele nos diz quando e onde ele morreu – na cruz de Cristo. Ele diz: “Já estou [fui] crucificado com Cristo” (v. 20). Nosso velho “eu” já se foi judicialmente diante de Deus na morte de Cristo. De fato, a epístola apresenta vários aspectos da morte de Cristo por várias razões:
·       No capítulo 1:4, a morte de Cristo coloca de lado meus pecados.
·       No capítulo 2:20, a morte de Cristo coloca a mim de lado
·       No capítulo 6:14, a morte de Cristo coloca o mundo de lado

A identificação do crente com Cristo não para na morte. Paulo segue dizendo: “e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”. O crente também está identificado com Cristo no outro lado da morte – na vida em ressurreição (Jo 20:22; Fp 3:10). Aqui é onde o Cristianismo realmente começa – do outro lado da morte – isso é: da morte de Cristo. É na Sua ressurreição e ascensão que somos trazidos à nossa plena posição Cristã e em contato com nossas bênçãos espirituais, e é onde nossa vida está, “escondida com Cristo em Deus” (Cl 3:3).
O crente não apenas escapa do juízo na morte de Cristo, mas em sua identificação com Cristo em ressurreição ele torna-se um vaso para expressão do novo “eu”, o qual é Cristo vivendo nele. Não é que Cristo pessoalmente habita no corpo físico de crentes (como faz o Espírito Santo), mas antes, a vida de Cristo está no crente. O ponto aqui não é tanto que devemos viver para Cristo, mas antes que devemos viver Cristo. O caráter de Cristo deve ser visto em nós.
Além disso, esta vida é para ser vivida “por fé, a fé do Filho de Deus” (Gl 2:20 – JND). Observe que não é fé no Filho de Deus, mas “a fé do Filho de Deus”. Isso significa que em cada passo da nossa vida Cristã devemos exibir o mesmo tipo de fé que o próprio Senhor exibiu quando andou neste mundo. O artigo “na” (v. 20 – ARC) antes da palavra “carne” não deveria estar no texto quando se refere à vida que o Cristão agora vive. Isto implicaria viver após as sugestões da natureza pecaminosa, e negaria todo o ponto da passagem. Não vivemos a nova vida na carne”, mas antes “em carne”, o que simplesmente significa em nosso corpo humano.
Deus sabe que a nova vida, em que devemos viver por fé, precisa de um objeto para sustentar nosso interesse. Portanto, Ele nos deu um novo Objeto para nossa vida – o “Filho de Deus”. Ele é mais do que suficiente para preencher e satisfazer nosso coração e mente. Note que este Objeto não é a lei de Moisés, mas uma Pessoa viva – Cristo. A fé enxerga a Cristo, o Filho de Deus, e olha para Ele; e, na medida em que estamos ocupados com Ele, como nosso Objeto, receberemos poder do Espírito de Deus para fazer as coisas que são agradáveis a Deus (Rm 8:4).
Não apenas temos um novo Objeto para nosso coração, mas temos também um novo motivo para uma conduta Cristã. Ele diz: “O qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim”. Observe também que Ele nos amou, e provou Seu amor entregando-Se a Si mesmo na Cruz. Eu verdadeiramente vivo, mas por quão grande custo! Tal amor gera amor em nosso coração, o qual produz obediência em nossa vida. Esta não é uma obediência legalista, mas uma obediência que é nascida a partir de devoção de coração a Cristo. Quando aquilo que Cristo fez por nós faz morada em nosso coração, é então produzida uma resposta de obediência em nossa vida que a lei jamais poderia produzir. Tal amor é a fonte da devoção na vida do crente.
Os oponentes da graça irão argumentar que se a lei não tivesse parte na vida do crente, não haveria restrições para uma conduta pecaminosa. Alguém poderia crer no Senhor Jesus para salvação e então seguir em uma vida de pecado. Paulo mostra aqui que existem novos princípios na vida do crente que o motivam – não a pecar – mas a viver uma vida piedosa.

O Terceiro Encontro de Paulo com Pedro - Cap. 2:11-21

Os difamadores de Paulo também alegavam que ele não possuía autoridade como um apóstolo. Paulo responde a isso mencionando outro acontecimento quando ele havia se encontrado com Pedro. Paulo mostra que tinha autoridade suficiente para repreender aquele que era reputado como o principal apóstolo. Ao mesmo tempo, Paulo lida com a questão que dizia respeito a crentes judeus, se deveriam ou não guardar a lei. O acontecimento anterior havia mostrado que crentes gentios não deveriam ser colocados sob a lei (vs. 1-10), mas a questão ainda permanecia quanto aos crentes judeus, se deveriam estar debaixo dela. Essa questão é endereçada no terceiro encontro com Pedro onde Paulo mostra, conclusivamente, que crentes judeus também não deveriam estar debaixo da lei.
Vs. 11-13 – Algum tempo depois do concílio de Jerusalém de Atos 15, Pedro foi à Antioquia e encontrou os crentes judeus comendo livremente com os crentes gentios. Ele sabia que esta era a ordem de Deus e ajuntou-se a eles, porque “a parede de separação que estava no meio” de judeus e gentios havia sido derrubada (Ef 2:14). Mas quando chegaram certos homens de Jerusalém, da parte de Tiago, Pedro “se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão”. Outros, incluindo “Barnabé”, se deixaram “levar pela sua dissimulação”. Pedro sustentou a verdade do evangelho em palavra no concílio em Jerusalém (At 15:7-11), mas, na hora de praticá-la, Pedro fez o contrário. Ele falhou ao negar a verdade que ensinava pela sua conduta. Algumas Bíblias traduzem “dissimulação” como “hipocrisia” – e isso é exatamente o que estava acontecendo. A raiz da falha de Pedro estava em que ele queria ter sido considerado por aqueles que tinham reputação em Jerusalém. Ele temeu perder o respeito deles e isto o levou a dissimular. O fato de que ele possuía a posição de um apóstolo fazia da ofensa algo muito mais sério. Quanto mais um homem é honrado, tanto maior pedra de tropeço ele será para outros se vier a falhar. Foi exatamente isso que aconteceu: “E os outros judeus dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar”. O livro de Provérbios diz: “O receio do homem armará laços” (Pv 29:25). Pedro certamente caiu nesse laço e isto o levou a comprometer princípios.
V. 14 – Isso precisava ser tratado imediatamente. Paulo percebeu que a verdade do evangelho estava em jogo, talvez de uma maneira mais séria do que Pedro percebia. Uma falha pública – especialmente uma que influencia e afeta outros – requer uma repreensão pública (1 Tm 5:20). Paulo, portanto, perguntou a Pedro diante de todos: “Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus [a se judaizarem – JND]?” Ao recusar-se comer com os crentes gentios sua ação implicava em que, para a santidade, eram necessárias as observâncias dos costumes e das leis judaicas. E se isto fosse verdade, então depois de tudo, os gentios precisariam de fato estar debaixo da lei para que pudessem estar adequados para a comunhão com crentes judeus. Com efeito, Pedro, por meio de suas ações, estava compelindo os gentios a se “judaizarem”. Este era o mesmo erro que os mestres judaizantes estavam propagando na Galácia e, portanto, a repreensão de Pedro feita por Paulo continha uma repreensão implícita para os gálatas.
Pode parecer como algo pequeno simplesmente recusar comer uma refeição comum com crentes gentios, mas no fundo disso a “verdade do evangelho” estava sendo comprometida, e haveria grandes consequências práticas que colocariam em perigo a comunhão dos santos. Se as ações de Pedro seguissem sem que fossem contestadas, um círculo interno dentro da comunhão dos santos teria se desenvolvido – um tipo de aristocracia entre os irmãos. Criar-se-ia uma igreja dentro da Igreja. Isso implicava que existia algo como santidade e posição espiritual superiores entre os santos, e se os santos gentios quisessem ser admitidos neste círculo, teriam que se judaizar e obedecer aos requerimentos de Moisés. Isso é o que legalismo entre Cristãos frequentemente produz – um grupo de elite se desenvolverá dentro da comunhão dos santos. Tratava-se de algo divisório que precisava ser abordado imediatamente.
Pedro sabia muito bem disso porque o Senhor havia ensinado o contrário a ele quando estava no terraço de Simão, o curtidor. O Senhor havia a ele dito: “Não faças tu comum ao que Deus purificou” (At 10:15). Como todos às vezes fazemos, Pedro não viveu à luz da verdade que conhecia. Sua conduta revelava uma persistente convicção de superioridade dos judeus sobre os gentios. Isso mostra que enquanto os judaizantes haviam sido derrotados no concílio dos apóstolos em Jerusalém, a respeito de acrescentar a lei ao evangelho, o fermento do legalismo ainda estava operando na Igreja Cristã.
Vs. 15-18 – Nos versículos restantes do capítulo, Paulo registra um resumo de sua argumentação com Pedro quanto à lei em relação ao crente (A maioria dos expositores assumem que os versículos de 15 a 21 foram ditos a Pedro). Isso é apresentado aqui porque declara a própria essência de sua doutrina e atua como uma introdução para os próximos capítulos (3-4), onde ele expõe a verdade da justificação.
Paulo fez a Pedro uma segunda pergunta que expunha ainda mais a inconsistência de seu comportamento. Ele disse: “Nós, judeus por natureza, e não pecadores das nações, mas sabendo que um homem não é justificado sobre o princípio de obras de lei, mas pela fé de Jesus Cristo, nós também temos crido em Cristo Jesus, para sermos justificados sobre o princípio da fé de Cristo; e não de obras de lei; porque sobre o princípio de obras de lei nenhuma carne será justificada. Agora se ao procurarmos ser justificados em Cristo, nós somos também achados pecadores, é então Cristo um ministro de pecado?” (Gl 2:15-17 – JND). O ponto de Paulo aqui é que, se Pedro estava correto ao retornar à lei, então Cristo o havia guiado incorretamente ao recusar a lei em Atos 15. Mas isso era impossível; o Senhor não guiaria uma pessoa a fazer ambas as coisas. Paulo pergunta a Pedro: “Você está dizendo pelas suas ações que Cristo é um “ministro de pecado”? Paulo repele tal conclusão dizendo; “de maneira nenhuma”. O verdadeiro pecador ou transgressor não era Cristo, mas Pedro! Qualquer que fosse correto – abrir mão da lei ou retomá-la – uma coisa era certa, Pedro estava errado em um dos dois casos. Se Pedro estivesse certo agora (em retornar às observâncias legais), então suas ações anteriores estavam erradas. Se suas ações anteriores estivessem corretas, então ele estaria errado agora. Em qualquer um dos casos, ele permanecia como um transgressor.
Além da verdade aqui em questão, esta passagem efetivamente refuta a noção de que Pedro era o líder infalível da Igreja, como os católicos romanos ensinam. Pedro claramente errou aqui. Há uma lição para nós nisto: não devemos supor que pelo fato de um homem ser um líder em meio ao povo do Senhor, e honrado, que ele está sempre certo. Líderes também podem falhar.

O Segundo Encontro de Paulo com Pedro - Cap. 2:1-10

Havendo falado da harmonia existente entre Pedro e ele, Paulo segue enfatizando a plenitude de seu entendimento da revelação Cristã. Os difamadores de Paulo insinuavam que ele era inferior aos outros apóstolos naquilo que diz respeito ao seu conhecimento da verdade, e consequentemente, em sua pregação estava faltando alguns elementos importantes – tal como guardar a lei. Como criam que Paulo era deficiente em seu entendimento, eles falaram aos gálatas que a pregação dele não poderia ser confiada.
Paulo responde a isso apresentando outro encontro que ele teve com Pedro. Este acontecimento mostra que ele conhecia a verdade tão bem que os outros apóstolos não puderam acrescentar nada a ele, no que diz respeito a seu entendimento. Paulo omitiu elementos judaicos em sua pregação, tal como guardar a lei e a circuncisão, não porque ele não entendia o evangelho, mas porque tais coisas não têm parte na revelação Cristã.
V. 1 – Ele traz à memória um acontecimento, registrado em Atos 15, onde o assunto do guardar a lei na Igreja foi confrontado e resolvido. Quatorze anos após a primeira visita de Paulo à Jerusalém, ele foi para lá novamente para tratar do que diz respeito à necessidade de crentes serem ou não circuncidados e guardarem a lei. Paulo, e aqueles que estavam com ele, não haviam subido à Jerusalém para serem repreendidos pelos líderes de então por aquilo que estavam fazendo, nem era também para procurar ter a aprovação deles naquilo que pregavam. Ele subiu à Jerusalém “por uma revelação”. O Senhor lhe revelou que ele deveria ir, e os irmãos em Antioquia estavam em comunhão com isso (At 15:2). O propósito desta visita era considerar a relação da lei com o evangelho e expedir uma declaração apostólica definitiva quanto a isso.
Havia “alguns” que tinham vindo de entre eles na Judeia que não estavam esclarecidos quanto ao relacionamento da lei com o evangelho. Eles estavam essencialmente propondo o erro no qual os gálatas haviam caído (At 15:1, 5, 24). Era correto, portanto, que os irmãos em Antioquia levassem e tratassem o problema em sua origem (Jerusalém). Ao fazer isso, a unidade do Espírito entre a assembleia em Jerusalém e a assembleia em Antioquia seria mantida. Este é um princípio importante sobre o qual as assembleias deveriam agir quando há dificuldades que surgem entre elas. Depois de conferenciarem com os apóstolos acerca desta questão, a grande conclusão era de que não havia palavra da parte de Deus para se colocar crentes gentios debaixo da lei. Os apóstolos, portanto, emitiram uma carta com certos decretos para a conduta Cristã que estritamente proibia a colocação de jugo (a lei) sobre os gentios que criam no evangelho.
V. 2 – Paulo diz que quando ele chegou a Jerusalém e foi recebido pela assembleia, em primeiro lugar se comunicou “particularmente [privadamente – JND](separadamente dos outros) com aqueles que “estavam em estima”. Estes eram os “apóstolos e anciãos” em Jerusalém (At 15:6). As mulheres e recém-convertidos não foram incluídos nesta reunião, o que está em acordo com todas as atividades administrativas da assembleia. Eles fizeram isso porque havia a possibilidade de a igreja se dividir. Era bem conhecido que havia um forte elemento judaico em seu meio que não estava liberto do judaísmo, o qual iria se opor à verdade do evangelho (At 15:5). Lidar com a questão em um fórum aberto (diante de todos) colocava a comunhão dos santos em risco de ruptura e da igreja ser dividida em um lado judeu e outro gentio.
Os apóstolos, de forma privada, foram completamente inteirados do evangelho de Paulo de maneira que se tal coisa acontecesse eles poderiam lidar com isso. Paulo diz: “para que de maneira alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão”. O inimigo gostaria de ter lançado os santos em confusão; tendo a assembleia inteira reunida ele poderia facilmente ter feito isso, e o propósito de Paulo vir à Jerusalém teria sido frustrado. Isso mostra que podem existir momentos quando é necessário que os líderes responsáveis em uma assembleia se reúnam juntamente para discutir certos assuntos que dizem respeito à assembleia local, sem que estejam presentes aqueles que não estão estabelecidos ou que são governados por emoções. Tais pessoas estando presentes estariam inclinadas a fazer alarde.
V. 3 – Os irmãos em Antioquia “resolveram” (At 15:2) que Paulo e Barnabé deveriam tomar consigo a Tito como um caso precedente. Tito era um crente gentio que nunca havia sido circuncidado. O que os apóstolos em Jerusalém teriam a dizer quanto a ele? É significativo que Pedro, Tiago e João e os outros apóstolos nunca “constrangeram” Tito a ser circuncidado! Isso provou que eles não viam isso como necessário. Este fato era algo para os gálatas considerarem; se os apóstolos em Jerusalém não viram isso ser uma coisa necessária, por que tinham eles então adotado tal ideia?
Alguns podem dizer que Paulo havia cedido neste ponto porque ele circuncidou Timóteo mais tarde (At 16:3). Porém, isso foi feito por uma razão totalmente diferente. Ele fez isso por causa da sua liberdade no evangelho. Ele procurava ser “como” um judeu para alcançar e ganhar os judeus naquela área com o evangelho. Ele disse que iria até ao ponto de fazer-se “como” “os que estão debaixo da lei”, mas ao dizer isso ele rapidamente acrescentou “não estando eu debaixo da lei”. Ele disse: “Para ganhar os que estão debaixo da lei” (1 Co 9:20 – JND). Ele não cria que um Cristão deveria estar sob a lei, mas faria vista grossa para ganhar, para Cristo, alguns sob ela.
V. 4-5 – Além disso, quando “falsos irmãos”, que haviam se infiltrado na reunião privada, levantaram-se e tentaram convencer os outros que Cristãos precisavam estar debaixo da lei, Paulo diz: “Aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição”. Seu ponto aqui é igualmente poderoso. Os apóstolos testemunharam, em primeira mão, este afrontamento e não ficaram do lado dos judaizantes que estavam no meio deles impondo a guarda da lei! Em lugar disto, eles deram suporte a Paulo posicionando-se pela “verdade do evangelho”. E foi a partir da boca de Pedro que isso foi estabelecido (At 15:7-11).
Paulo diz claramente que estes judaizantes haviam se introduzido “secretamente [sorrateiramente – JND]entre os santos. Uma lição que podemos aprender disso é que existe a necessidade de sermos cuidadosos na recepção. Os irmãos naqueles dias não foram cuidadosos e essas pessoas acabaram entrando. Hoje, em quase todos os lugares, a igreja não pratica princípios de recepção, e isso tem causado a entrada de muito mal e muito dano na Igreja.
V. 6 – Já que os judaizantes estavam estimando em demasia os líderes em Jerusalém, Paulo – não intentando falar deles de maneira depreciativa – diz: “aqueles que eram distintos como sendo alguma coisa (o que tenham sido não me faz diferença)” (JND). Seu ponto aqui era de que os apóstolos e líderes em Jerusalém não o intimidavam, embora ele os respeitasse no Senhor (Mc 8:24; Jd 16).
Quando Paulo expôs aos outros apóstolos o seu evangelho, eles não precisaram corrigir ou modificar o que ele pregava, como foi o caso com Apolo quando Áquila e Priscila o tomaram e “lhe expuseram com mais precisão o caminho de Deus” (At 18:24-28 – AIBB). Na verdade, os apóstolos não podiam acrescentar “nada” a Paulo no que diz respeito à comunicação de maior luz e conhecimento na revelação Cristã. Eles simplesmente reconheceram a fonte divina de seu ministério e afirmaram sua verdade e perfeição.
Vs. 7-10 – Os apóstolos reconheceram que o evangelho da “circuncisão” havia sido confiado a Pedro, e o “evangelho da incircuncisão” a Paulo. Paulo segue adiante e diz: “Aqu’Ele” que havia operado em Pedro, fazendo-o um apóstolo, era a mesma Pessoa que havia operado nele, fazendo dele um apóstolo. “Esse”, obviamente, tratava-Se do Senhor. Não somente os apóstolos em Jerusalém reconhecem e afirmam a verdade que Paulo ensinava, mas alegremente prestam suporte a ele e a Barnabé em sua obra, dando-lhes “as destras em comunhão”.
Este segundo acontecimento histórico responde à insinuação de que o evangelho de Paulo era deficiente em certos elementos de doutrina, a saber, a exclusão da lei no evangelho que ele pregava. Tal acontecimento prova que a acusação de seus difamadores era completamente falsa.
Portanto, existem três coisas aqui que os santos gálatas precisavam considerar. Os apóstolos de Jerusalém:
  • Nunca insistiram para que Tito fosse circuncidado.
  • Não dariam suporte ao elemento judaizante que havia se levantado e pressionava para que crentes se colocassem debaixo da lei, antes ficaram do lado de Paulo e contra tais pessoas.
  • Alegremente reconheceram o ensino de Paulo e deram a ele e a Barnabé “as destras em comunhão”, em suporte àquilo que eles estavam fazendo. 
O argumento de Paulo aqui é poderoso. Se os apóstolos em Jerusalém estavam em feliz comunhão com aquilo que ele estava ensinando, por que então os gálatas estavam tendo dificuldade com seus ensinamentos? Aqueles que eram “colunas” na Igreja estavam de acordo com Paulo e não viam seus ensinamentos como imperfeitos de forma alguma. Pensavam os gálatas serem mais espirituais e conhecedores do que os apóstolos em Jerusalém? Condenar a doutrina de Paulo significava condenar os apóstolos que davam suporte à sua pregação com as destras em comunhão! Isso mostrava que os gálatas estavam num terreno perigoso. Eles haviam tomado uma posição que os colocava em colisão, não apenas com Paulo, mas também com os outros apóstolos que estavam em Jerusalém.

O Primeiro Encontro de Paulo com Pedro - Cap. 1:18-24

Vs. 18-19 – Os difamadores de Paulo tinham espalhado a ideia de que ele era um pregador renegado que estava fora de sintonia com os outros apóstolos e não tinha autorização alguma deles para as coisas que ensinava.
Paulo responde a isso mencionando um acontecimento que provava que não havia verdade alguma em tal acusação. Três anos depois que tinha sido salvo ele subiu à Jerusalém e “ficou com” Pedro por quinze dias (At 9:26). Isso mostra que havia perfeita harmonia entre Pedro e ele. Ele menciona “Tiago” num tom semelhante. Simplesmente não era verdade que Paulo estava fora de sintonia com os outros apóstolos. Se ele fosse algum renegado que era heterodoxo[1] no que concerne a fé Cristã, Pedro teria detectado isso e o teria rejeitado.
Paulo deixa claro que não havia ido à Jerusalém para se tornar um apóstolo, ele tinha sido feito apóstolo pelo chamado do Senhor (Gl 1:1; 1 Co 1:1, 9:1). Nem tinha ido até lá para ser treinado no Cristianismo ou para receber autorização dos outros apóstolos. Na verdade, ele menciona que propositadamente permaneceu longe de Jerusalém depois de ter sido salvo – não por desrespeito por seus companheiros apóstolos – mas porque sua comissão do Senhor não necessitava de autorização humana. O especial chamado do Senhor feito a Paulo era para ele levar o evangelho aos gentios (At 9:15, 13:46, 18:6, 22:21, 28:28) e, portanto, não precisava ter ido para Jerusalém, o centro judaico.
Por que então Paulo foi à Jerusalém? Ele foi para lá para comunhão, não para autorização. Ele queria familiarizar-se com Pedro que havia sido testemunha ocular da vida e ministério do Senhor. Paulo foi recebido por ele e estava em feliz comunhão com os outros que encontrou em Jerusalém (At 9:28).
Vs. 20-24 – Depois de sua visita a Pedro, Paulo retornou para “as partes da Síria e da Cilícia”. Ele acrescenta que as “igrejas da Judeia” se regozijaram no fato de que ele havia sido convertido e estava pregando Cristo, ainda que não fosse “conhecido de vista” deles. Eles estavam tão felizes com sua conversão que “glorificavam a Deus”. Isso mostra que os santos da Judeia, de maneira geral, apoiavam a ele e ao evangelho que pregava.
O ponto de Paulo aqui é claro e simples. Se os apóstolos e os santos na Judeia estavam em feliz comunhão com ele, os gálatas deveriam ter total confiança nele também. No entanto, estavam lhe tratando como um inimigo! (Gl 4:16).


[1] N. do T.: Heterodoxo provém da palavra grega “hetero” que significa “diferente” e “doxa” que significa “fé”. É o que se opõe aos padrões, normas, regras ou à uma doutrina pré-estabelecida. É o que está em desconformidade com a doutrina tida como verdadeira.

Três Encontros com Pedro (Capítulos 1:18–2:21)

Paulo teve que contender com certas acusações que foram designadas para enfraquecer a confiança dos santos daGalácia nele e em seu ministério. Desde que Pedro era considerado por muitos o apóstolo mais preeminente, Paulo foca emsuas interações com ele. Paulo menciona três diferentes encontros que ele havia tido com Pedro que desmascaravamcompletamente as falsas acusações. Estes três incidentes são apresentados para mostrar de maneira conclusiva que oapostolado de Paulo não estava em oposição aos dos outros apóstolos – na verdade, os outros apóstolos lhe davam suporte!

Três Lugares Significativos na História de Paulo

Nos versículos 17 e 18 Paulo menciona três lugares que foram significativos em seu chamado e preparação divina para seu serviço – Damasco, Arábia e Jerusalém.
Primeiramente “Damasco” (At 9:1-22), foi onde ele foi convertido a Deus, recebeu o Espírito Santo e onde foi primeiramente introduzido à comunhão com os irmãos de “fé igualmente preciosa” (2 Pe 1:1).
Em segundo lugar, “Arábia” (o deserto), foi onde Deus o preparou para o trabalho que ele haveria de fazer (At 9:22-23). Ele tinha recebido sua mensagem por revelação, mas precisava aprender, assim como todos precisamos, que a carne para nada aproveita nas coisas de Deus (Jo 6:63; Rm 7:18). Esta lição somente pode ser aprendida por experiência, e isto leva algum tempo. Era algo que os judaizantes evidentemente não haviam aprendido. Acrescentar a lei à vida de um crente para seu aperfeiçoamento Cristão, que era aquilo que eles estavam tentando fazer (Gl 3:3), é uma prova clara de que alguém não entende o fim da carne, como sendo totalmente inútil e condenada por Deus (Rm 8:3).
O terceiro lugar que Paulo menciona é “Jerusalém”, o centro do judaísmo, onde os legalistas se gloriavam na lei de Moisés. Paulo deixa muito claro que ele havia se afastado de Jerusalém depois de ter sido salvo. Isso era um bom exemplo para os gálatas, porque tudo que Jerusalém significa apenas tende a dificultar os Cristãos – suas influências contribuem para a servidão da lei (Gl 4:24-25). Paulo mesmo é um exemplo disso. Quando ele foi para Jerusalém mais tarde, caiu sob a influência de Tiago e dos outros que lá estavam, os quais não estavam esclarecidos quanto à distinção existente entre judaísmo e Cristianismo, e isso levou Paulo à prisão em Cesareia (At 21:18-29). Isso mostra que grande força a influência de Jerusalém tinha sobre alguém de origem judaica.
Paulo foi ajudado em Damasco e na Arábia, mas ele foi impedido por Jerusalém. Os gálatas precisavam entender isso, porque os judaizantes, que estavam lançando os gálatas em confusão, tinham vindo de Jerusalém e trouxeram aquela influência com eles.